Eu Quero A Menina

Eu Quero A Menina (Ruy Penalva) Só não viu foi quem não quis O perdão tergiversar Quando aquele monstro feiticeiro Tomou conta do lugar Chegou, pediu, minto, exigiu A mais linda virgem pra levar A mais atraente A mais comovente A mais sempre a mais dentre as mais Pegou a menina Levou a menina Roubou a menina, sumiu Ninguém soube dela Ninguém mais revela Ninguém disse ao menos um piu! Já depois muito depois Bem no céu apareceu Um grande cometa Talvez um planeta Eu sei uma estrela nasceu Eu quero a menina Me tragam a menina Eu quero a menina porque No fim novela Só eu gosto dela Só eu vou poder desfazer Tamanho encanto Dum forte quebrando Que um dia pôs tudo a perder Um grande momento Meu contentamento De um dia casar com você

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sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O cardeal, o bandido e o feto


Hoje o cardeal Don Eugênio disse que bandido tem de ser tratado como bandido. Como disse Caetano Velloso numa das suas canções: O cardeal vê espírito no feto e nenhum no marginal. Será que existe uma desespiritualização no marginal de forma que ele passe a ser apenas um corpo sem espírito? Bom, Don Eugênio poderia nos explicar isso melhor à luz do cânone. E quando o feto tem toda a possibilidade de ser um marginal, o que diz o cardeal? Deveríamos coibir esse potencial marginal ainda in utero? There is something that is out of order.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Endureça, Barack Obama

November 1, 2010

Get Bold, Barack

WASHINGTON — I was among the early and strong supporters of Barack Obama. America was stuck and it seemed to me he could take the country forward into the 21st century, which began so tragically in downtown New York and here in the nation’s capital. Like many, at midterm, I’m struggling with my disappointment.
I’ve asked myself: Would Hillary Clinton, experienced and attuned to blue-collar America, have been stronger and more capable of lifting the national mood? I’ve thought to myself: Is it unfair to feel this disillusionment given the scale of Obama’s inherited problems? And I’ve wondered, given the visceral disrespect for the president from the Tea Party — a foul scorn full of innuendo that skirts the boundaries of racism — whether Obama could have done anything to reach across the aisle?
To all these questions, at different times, I’ve had different answers. No, says one voice, get over it, he’s doing the best he could to lift America from the double whammy of war and economic meltdown. He’s smart and curious — and, anyway, just consider the mystical-nationalist-insular alternative.
Oh yeah, says another, he’s too cool a customer, a beguiling construct more than flesh and blood, an empty vessel for a misplaced idealism, a politician averse to pressing the flesh (and what else is politics?), a man who — not for nothing — tilts his chin upward when he speaks.
Back and forth go the voices, but there’s no getting away from the disappointment. This president feels flat — and somehow not quite genuine. He should place above his bed the words of Jonathan Alter: “Logic can convince but only emotion can motivate.”
On arriving in New York from London, I went to a party on the Upper East Side. It was a well-heeled crowd, almost all Obama supporters a couple of years back. “The guy’s a phony,” one guest said. “We need a Bloomberg, somebody who can manage,” said another, referring to the billionaire mayor of New York. “All this Clinton nostalgia, it’s because Obama is a loner, not interested in people,” said a third.
I was a struck by how people aren’t sure where Obama’s headed. There’s no narrative to the presidency. It was about believable change. Now the president seems less a passionate change agent than a careful calculator unsure of his core beliefs. In London, you know what Prime Minister David Cameron is about: rowing back the state and slashing the deficit. Agree or disagree, there’s a narrative. It helps.
Another foreign leader came to mind, President Luiz Inácio Lula da Silva of Brazil, now about to leave office after an extraordinary presidency. Here are two outsider politicians with lullaby-like names and the kinds of faces not previously seen on their nations’ banknotes, breaking molds of race or class. But there the resemblance ends.
Lula proved all of a piece — one of eight children from the impoverished far north of Brazil, a former steelworker who repaired social fracture in one of the world’s most unequal societies. Obama has so far failed that critical authenticity test.
There was an anti-establishment frisson to Obama, the black man who battled to overcome prejudice and America’s “original sin” to win the nation’s highest office. Yet he has revealed himself as an elite product of America’s elite schools, a politician who built his image with great intelligence but shows little taste for the nitty-gritty. Bipartisanship, when it’s not just oratory, begins with small gestures.
I was talking to a Democratic Party donor, a Kansas City businessman. He said he’s given over $30,000 to Obama — and not a word of thanks. He was irritated. Lots of people think this president is too smug to write thank-you notes or make quick courtesy calls.
After the inevitable midterm defeat, Obama needs to make some decisions. He’s stuck on the 20-yard line in domestic and foreign policy. The facile attacks on “fat-cat bankers” have to end. They don’t convince the left and they infuriate the right. Prosecute, by all means, but don’t rail. And remember that Americans get good housekeeping in the end. One $787 billion fiscal injection is enough.
Americans are trying to de-leverage. They’ll follow a president who says extending tax cuts for the rich is madness. They might buy a consumption tax. But the president has to lead.
Obama is confronting an international conviction that he’s hesitant. The agonizing review that led to the Afghan surge left an impression of uncertainty. In the end we got what some have called the Groucho Marx Hello, I Must be Going! plan, a brief reinforcement to be reversed in time for the 2012 campaign. In the Middle East, too, domestic politics have trumped change, with resulting equivocation and familiar paralysis.
Boldness characterized Obama’s campaign; only that will get him re-elected in 2012. He needs to invigorate his team with doers rather than thinkers. He needs to become serious about balancing the budget. He needs a foreign policy that reflects a changed world not a churlish Congress.
And he must admit to himself that perhaps the disappointed are not misguided but rational, even scientific — words he likes.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Eletrochoque - A volta de uma velha terapia



"Eletrochoque" é mais eficaz contra depressões graves
Método recuperou 70% dos pacientes, enquanto drogas antidepressivas tiveram 30% de êxito, diz psiquiatra

Preconceito se deve a mau uso no passado, dizem especialistas; efeitos colaterais vão de náusea a amnésia

GUILHERME GENESTRETI
ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA
No imaginário popular, eletrochoque é aquela antiga tortura usada contra pacientes psiquiátricos.
Na psiquiatria, "eletrochoque" é o sinônimo politicamente incorreto de eletroconvulsoterapia, "o antidepressivo mais poderoso que existe", segundo Harold Sackheim, professor da Universidade Columbia (EUA).
Sackheim, que é americano e participou do Congresso Brasileiro de Psiquiatria encerrado sábado em Fortaleza, disse que 70% dos pacientes com quadros de depressão grave se recuperaram com eletrochoques. Já a taxa de de sucesso com antidepressivos, nesses casos, não ultrapassou 30%.
"Metade dos pacientes que eu tratei já tentou se matar e eles acabaram se recuperando", disse à Folha o professor de psiquiatria.
Segundo o brasileiro Moacyr Rosa, também pesquisador da Columbia, o preconceito contra o método vem de seu mau uso no passado, quando era aplicado sem anestesia e para qualquer coisa. "A eletroconvulsoterapia acompanhou a evolução da medicina e hoje suas aplicações são muito mais seguras."

INDICAÇÕES
Se antes havia um uso indiscriminado dessa terapia, hoje os especialistas só a recomendam para casos em que o paciente não responde aos medicamentos ou quando a depressão é severa.
"Se os sintomas forem muito intensos, a ponto de causarem estupor ou grandes prejuízos às atividades profissionais e ao relacionamento, temos um caso grave de depressão", explica o psiquiatra José Alberto Del Porto, da Unifesp.
As sessões de 20 minutos são feitas três vezes por semana, por um mês.
O paciente recebe anestesia geral. Os eletrodos induzem uma corrente elétrica no cérebro que provoca a convulsão, alterando os níveis de neurotransmissores e neuromoduladores como a serotonina e a dopamina.

AMNÉSIA
Apesar de exaltarem a eficácia do método, os especialistas reconhecem que a terapia por convulsão elétrica causa efeitos colaterais que variam da náusea até a perda de parte da memória.
Segundo Del Porto, é comum o procedimento causar perda transitória da capacidade de memorização. "Depois de duas ou três semanas, tudo volta ao normal. Já os casos de perda das recordações costumam ser raros".
Segundo Rosa, esses desconfortos são o foco atual das pesquisas. "A ideia hoje é diminuir a incidência desses efeitos colaterais."

Dilma Porque Nossa Senhora É Mulher

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domingo, 31 de outubro de 2010

A Fala da Nova Presidente




Minhas amigas e meus amigos de todo o Brasil,
É imensa a minha alegria de estar aqui.
Recebi hoje de milhões de brasileiras e brasileiros a missão mais importante de minha vida.
Este fato, para além de minha pessoa, é uma demonstração do avanço democrático do nosso país: pela primeira vez uma mulher presidirá o Brasil. Já registro portanto aqui meu primeiro compromisso após a eleição: honrar as mulheres brasileiras, para que este fato, até hoje inédito, se transforme num evento natural. E que ele possa se repetir e se ampliar nas empresas, nas instituições civis, nas entidades representativas de toda nossa sociedade.
A igualdade de oportunidades para homens e mulheres é um principio essencial da democracia. Gostaria muito que os pais e mães de meninas olhassem hoje nos olhos delas, e lhes dissessem: SIM, a mulher pode!
Minha alegria é ainda maior pelo fato de que a presença de uma mulher na presidência da República se dá pelo caminho sagrado do voto, da decisão democrática do eleitor, do exercício mais elevado da cidadania. Por isso, registro aqui outro compromisso com meu país:
Valorizar a democracia em toda sua dimensão, desde o direito de opinião e expressão até os direitos essenciais da alimentação, do emprego e da renda, da moradia digna e da paz social.
Zelarei pela mais ampla e irrestrita liberdade de imprensa.
Zelarei pela mais ampla liberdade religiosa e de culto.
Zelarei pela observação criteriosa e permanente dos direitos humanos tão claramente consagrados em nossa constituição.
Zelarei, enfim, pela nossa Constituição, dever maior da presidência da República.
Nesta longa jornada que me trouxe aqui pude falar e visitar todas as nossas regiões.
O que mais me deu esperanças foi a capacidade imensa do nosso povo, de agarrar uma oportunidade, por mais singela que seja, e com ela construir um mundo melhor para sua família.
É simplesmente incrível a capacidade de criar e empreender do nosso povo. Por isso, reforço aqui meu compromisso fundamental: a erradicação da miséria e a criação de oportunidades para todos os brasileiros e brasileiras.
Ressalto, entretanto, que esta ambiciosa meta não será realizada pela vontade do governo. Ela é um chamado à nação, aos empresários, às igrejas, às entidades civis, às universidades, à imprensa, aos governadores, aos prefeitos e a todas as pessoas de bem.
Não podemos descansar enquanto houver brasileiros com fome, enquanto houver famílias morando nas ruas, enquanto crianças pobres estiverem abandonadas à própria sorte.
A erradicação da miséria nos próximos anos é, assim, uma meta que assumo, mas para a qual peço humildemente o apoio de todos que possam ajudar o país no trabalho de superar esse abismo que ainda nos separa de ser uma nação desenvolvida.
O Brasil é uma terra generosa e sempre devolverá em dobro cada semente que for plantada com mão amorosa e olhar para o futuro.
Minha convicção de assumir a meta de erradicar a miséria vem, não de uma certeza teórica, mas da experiência viva do nosso governo, no qual uma imensa mobilidade social se realizou, tornando hoje possível um sonho que sempre pareceu impossível.
Reconheço que teremos um duro trabalho para qualificar o nosso desenvolvimento econômico. Essa nova era de prosperidade criada pela genialidade do presidente Lula e pela força do povo e de nossos empreendedores encontra seu momento de maior potencial numa época em que a economia das grandes nações se encontra abalada.
No curto prazo, não contaremos com a pujança das economias desenvolvidas para impulsionar nosso crescimento. Por isso, se tornam ainda mais importantes nossas próprias políticas, nosso próprio mercado, nossa própria poupança e nossas próprias decisões econômicas.
Longe de dizer, com isso, que pretendamos fechar o país ao mundo. Muito ao contrário, continuaremos propugnando pela ampla abertura das relações comerciais e pelo fim do protecionismo dos países ricos, que impede as nações pobres de realizar plenamente suas vocações.
Mas é preciso reconhecer que teremos grandes responsabilidades num mundo que enfrenta ainda os efeitos de uma crise financeira de grandes proporções e que se socorre de mecanismos nem sempre adequados, nem sempre equilibrados, para a retomada do crescimento.
É preciso, no plano multilateral, estabelecer regras mais claras e mais cuidadosas para a retomada dos mercados de financiamento, limitando a alavancagem e a especulação desmedida, que aumentam a volatilidade dos capitais e das moedas. Atuaremos firmemente nos fóruns internacionais com este objetivo.
Cuidaremos de nossa economia com toda responsabilidade. O povo brasileiro não aceita mais a inflação como solução irresponsável para eventuais desequilíbrios. O povo brasileiro não aceita que governos gastem acima do que seja sustentável.
Por isso, faremos todos os esforços pela melhoria da qualidade do gasto público, pela simplificação e atenuação da tributação e pela qualificação dos serviços públicos.
Mas recusamos as visões de ajustes que recaem sobre os programas sociais, os serviços essenciais à população e os necessários investimentos.
Sim, buscaremos o desenvolvimento de longo prazo, a taxas elevadas, social e ambientalmente sustentáveis. Para isso zelaremos pela poupança pública.
Zelaremos pela meritocracia no funcionalismo e pela excelência do serviço público.
Zelarei pelo aperfeiçoamento de todos os mecanismos que liberem a capacidade empreendedora de nosso empresariado e de nosso povo.
Valorizarei o Micro Empreendedor Individual, para formalizar milhões de negócios individuais ou familiares, ampliarei os limites do Supersimples e construirei modernos mecanismos de aperfeiçoamento econômico, como fez nosso governo na construção civil, no setor elétrico, na lei de recuperação de empresas, entre outros.
As agências reguladoras terão todo respaldo para atuar com determinação e autonomia, voltadas para a promoção da inovação, da saudável concorrência e da efetividade dos setores regulados.
Apresentaremos sempre com clareza nossos planos de ação governamental. Levaremos ao debate público as grandes questões nacionais. Trataremos sempre com transparência nossas metas, nossos resultados, nossas dificuldades.
Mas acima de tudo quero reafirmar nosso compromisso com a estabilidade da economia e das regras econômicas, dos contratos firmados e das conquistas estabelecidas.
Trataremos os recursos provenientes de nossas riquezas sempre com pensamento de longo prazo. Por isso trabalharei no Congresso pela aprovação do Fundo Social do Pré-Sal. Por meio dele queremos realizar muitos de nossos objetivos sociais.
Recusaremos o gasto efêmero que deixa para as futuras gerações apenas as dívidas e a desesperança.
O Fundo Social é mecanismo de poupança de longo prazo, para apoiar as atuais e futuras gerações. Ele é o mais importante fruto do novo modelo que propusemos para a exploração do pré-sal, que reserva à Nação e ao povo a parcela mais importante dessas riquezas.
Definitivamente, não alienaremos nossas riquezas para deixar ao povo só migalhas.
Me comprometi nesta campanha com a qualificação da Educação e dos Serviços de Saúde.
Me comprometi também com a melhoria da segurança pública.

Com o combate às drogas que infelicitam nossas famílias.
Reafirmo aqui estes compromissos. Nomearei ministros e equipes de primeira qualidade para realizar esses objetivos.
Mas acompanharei pessoalmente estas áreas capitais para o desenvolvimento de nosso povo.
A visão moderna do desenvolvimento econômico é aquela que valoriza o trabalhador e sua família, o cidadão e sua comunidade, oferecendo acesso a educação e saúde de qualidade.
É aquela que convive com o meio ambiente sem agredi-lo e sem criar passivos maiores que as conquistas do próprio desenvolvimento.
Não pretendo me estender aqui, neste primeiro pronunciamento ao país, mas quero registrar que todos os compromissos que assumi, perseguirei de forma dedicada e carinhosa.
Disse na campanha que os mais necessitados, as crianças, os jovens, as pessoas com deficiência, o trabalhador desempregado, o idoso teriam toda minha atenção. Reafirmo aqui este compromisso.
Fui eleita com uma coligação de dez partidos e com apoio de lideranças de vários outros partidos. Vou com eles construir um governo onde a capacidade profissional, a liderança e a disposição de servir ao país será o critério fundamental.
Vou valorizar os quadros profissionais da administração pública, independente de filiação partidária.
Dirijo-me também aos partidos de oposição e aos setores da sociedade que não estiveram conosco nesta caminhada. Estendo minha mão a eles. De minha parte não haverá discriminação, privilégios ou compadrio.
A partir de minha posse serei presidenta de todos os brasileiros e brasileiras, respeitando as diferenças de opinião, de crença e de orientação política.
Nosso país precisa ainda melhorar a conduta e a qualidade da política. Quero empenhar-me, junto com todos os partidos, numa reforma política que eleve os valores republicanos, avançando em nossa jovem democracia.
Ao mesmo tempo, afirmo com clareza que valorizarei a transparência na administração pública. Não haverá compromisso com o erro, o desvio e o malfeito. Serei rígida na defesa do interesse público em todos os níveis de meu governo. Os órgãos de controle e de fiscalização trabalharão com meu respaldo, sem jamais perseguir adversários ou proteger amigos.
Deixei para o final os meus agradecimentos, pois quero destacá-los. Primeiro, ao povo que me dedicou seu apoio. Serei eternamente grata pela oportunidade única de servir ao meu país no seu mais alto posto. Prometo devolver em dobro todo o carinho recebido, em todos os lugares que passei.
Mas agradeço respeitosamente também aqueles que votaram no primeiro e no segundo turno em outros candidatos ou candidatas. Eles também fizeram valer a festa da democracia.
Agradeço as lideranças partidárias que me apoiaram e comandaram esta jornada, meus assessores, minhas equipes de trabalho e todos os que dedicaram meses inteiros a esse árduo trabalho.
Agradeço a imprensa brasileira e estrangeira que aqui atua e cada um de seus profissionais pela cobertura do processo eleitoral.
Não nego a vocês que, por vezes, algumas das coisas difundidas me deixaram triste. Mas quem, como eu, lutou pela democracia e pelo direito de livre opinião arriscando a vida; quem, como eu e tantos outros que não estão mais entre nós, dedicamos toda nossa juventude ao direito de expressão, nós somos naturalmente amantes da liberdade. Por isso, não carregarei nenhum ressentimento.
Disse e repito que prefiro o barulho da imprensa livre ao silencio das ditaduras. As criticas do jornalismo livre ajudam ao pais e são essenciais aos governos democráticos, apontando erros e trazendo o necessário contraditório.
Agradeço muito especialmente ao presidente Lula. Ter a honra de seu apoio, ter o privilégio de sua convivência, ter aprendido com sua imensa sabedoria, são coisas que se guarda para a vida toda. Conviver durante todos estes anos com ele me deu a exata dimensão do governante justo e do líder apaixonado por seu pais e por sua gente. A alegria que sinto pela minha vitória se mistura com a emoção da sua despedida.
Sei que um líder como Lula nunca estará longe de seu povo e de cada um de nós.
Baterei muito a sua porta e, tenho certeza, que a encontrarei sempre aberta.
Sei que a distância de um cargo nada significa para um homem de tamanha grandeza e generosidade. A tarefa de sucedê-lo é difícil e desafiadora. Mas saberei honrar seu legado.
Saberei consolidar e avançar sua obra.
Aprendi com ele que quando se governa pensando no interesse público e nos mais necessitados uma imensa força brota do nosso povo.
Uma força que leva o país para frente e ajuda a vencer os maiores desafios.
Passada a eleição agora é hora de trabalho. Passado o debate de projetos agora é hora de união.
União pela educação, união pelo desenvolvimento, união pelo país. Junto comigo foram eleitos novos governadores, deputados, senadores. Ao parabenizá-los, convido a todos, independente de cor partidária, para uma ação determinada pelo futuro de nosso país.
Sempre com a convicção de que a Nação Brasileira será exatamente do tamanho daquilo que, juntos, fizermos por ela.
Muito obrigada,

O Pré-Sal - por Consuelo Dieguez





CONSUELO DIEGUEZ
 
Baixe aqui a versão em áudio desta matéria.

"Carminatti, aqui não tem óleo, só tem água."

Era um domingo, no final de agosto de 2006. Mario Carminatti, o geólogo-chefe da Petrobras, acabara de tomar o café da manhã em sua casa, em Niterói, e ouvia, atônito e paralisado, a notícia que Gilberto Lima, o gerente-geral de operações exploratórias da companhia, lhe passava pelo telefone. Ao recobrar a fala, Carminatti, um gaúcho de 53 anos, cabelos tendendo ao grisalho, olhos azuis e sotaque carregado, respondeu: "Não é possível, tchê, não faz sentido. Vamos mais fundo nesse poço, tem que ter petróleo aí embaixo."

As horas que se seguiram foram de angústia. Se a perfuração continuasse indicando que o poço RJS-628A, na Bacia de Santos, não tinha óleo, significaria o fracasso de um projeto que começara seis anos antes, demandara milhares de horas de pesquisa e queima-ra milhões de dólares em complexas operações de engenharia.

Na segunda rodada da licitação da Agência Nacional do Petróleo, em 2000, a Petrobras arrematara quatro áreas - chamadas de "blocos" nos meios petrolíferos - na Bacia de Santos, que era quase desconhecida pelos geólogos. Para obtê-los, a empresa se associara à British Gas, à portuguesa Petrogal, à espanhola Repsol-YPF e à americana Chevron. Juntas, elas desembolsaram 285 milhões de dólares. Com uma participação de mais de 60% no negócio, a companhia brasileira entrara com a maior parte dos recursos.

Com as descobertas dos campos gigantes de Marlim e Roncador, na Bacia de Campos, na década de 90, Santos ficara abandonada. O desinteresse se justificava, ademais, pela incerteza de ali haver óleo: os estudos preliminares não haviam sido animadores. Com o fim do ciclo de descobertas na Bacia de Campos, a Petrobras tinha que recompor suas reservas de 14 bilhões de barris. Só então a Bacia de Santos surgiu como alternativa de prospecção.

Dirigida na época pelo economista Henri Philippe Reichstul, a estatal encomendou um programa de dados sísmicos em três dimensões - o maior desenvolvido até então no mundo - para mapear a área de 20 mil quilômetros quadrados dos quatro blocos. Por meio de explosões que emitiram ondas sísmicas, os aparelhos de 3D instalados em navios-plataforma produziram imagens do fundo do mar. O programa levou dois anos até gerar dados que pudessem ser interpretados pelos geólogos da companhia.

As imagens captadas revelaram a existência de grandes elevações sob uma extensa camada de sal - em teoria, elas poderiam ser reservatórios de petróleo. "As evidências eram muito boas", contou Carminatti durante uma conversa em sua sala, na sede da Petrobras, no centro do Rio. "As imagens indicaram a existência de alguns dados vitais: uma rocha geradora de petróleo, com uma rota fí-sica por onde ele pudesse passar; uma rocha-reservatório, onde o óleo pudesse se acumular; uma rocha que pudesse aprisioná-lo e, por fim, um selo fechando toda essa estrutura. E não poderia haver selo melhor do que uma camada de 2?quilômetros de sal."

Em fevereiro de 2003, a elite dos técnicos da empresa - um grupo de vinte geólogos, geocientistas e engenheiros - reuniu-se a portas fechadas para ouvir as conclusões do estudo. Carminatti informou-lhes que havia a possibilidade de existir grande quantidade de petróleo na região. Mas isso só poderia ser comprovado com a perfuração dos poços, o que gerava dois problemas descomunais. Primeiro, as áreas com potencial ficavam entre 5 e 7 mil metros de profundidade. E o máximo que a Petrobras havia atingido era uma profundidade de 1 886 metros - o que já era um recorde mundial. Em segundo lugar, tratava-se de buscar petróleo em rochas desconhecidas, que estavam ali há 120 milhões de anos, antes mesmo de serem cobertas pelo mar e de o sal ter se acumulado sobre elas.

Cabia àquele punhado de técnicos analisar, de início, se valia a pena dar continuidade ao projeto. A companhia estaria disposta a investir milhões de dólares num projeto novo e sem garantia de haver petróleo? Decidido o prosseguimento, seria necessário definir a prioridade na exploração - ou seja, dos quatro blocos adquiridos, qual seria prospectado primeiro, com base nos estudos sísmicos.

Havia, por fim, uma questão legal. Pelas regras da Agência Nacional do Petróleo, a ANP, as empresas que adquiriram blocos em leilão tinham um prazo para estudar os dados obtidos com os levantamentos sísmicos. Feito isso, deveriam optar ou não pela sua exploração, mas podiam permanecer com no máximo 50% das áreas, devolvendo o restante para a Agência. E era aquele grupo que teria que indicar as áreas a serem devolvidas. "Tudo isso gerou uma ansiedade muito grande", lembrou Carminatti. "Todo o nosso conhecimento geológico estava sendo posto em xeque. Um erro de avaliação poderia causar pesados prejuízos à Petrobras e a seus parceiros."

Àquela reunião seguiram-se inúmeras outras, cada vez mais tensas. Parte do grupo achava um delírio perfurar a mais de 5 mil metros de profundidade, numa área desconhecida. "Não era só a questão de se haveria ou não o óleo, mas se teríamos equipamentos para descer a tal profundidade e como se comportaria a camada de 2 quilômetros de sal, que nenhuma empresa no mundo jamais ousara atravessar", disse Carminatti. O grupo não chegou a um consenso. A posição majoritária, de continuar com o projeto, foi levada a Guilherme Estrella, diretor de Exploração e Produção da Petrobras.

Guilherme Estrella é um geólogo de 66 anos, cujo rosto rechonchudo e a calva lhe conferem um aspecto bonachão. A imagem de sujeito pacato, avesso a celeumas, se desmancha logo que começa a falar sobre o pré-sal. No final de outubro, ele me recebeu em sua ampla sala, no 18º andar do prédio da Petrobras, de onde se tem uma bela vista para as montanhas de Santa Teresa. "Muita gente fala que tivemos sorte. Sorte uma ova", disse. "O pré-sal é resultado do estabelecimento de metas exploratórias, da exploração de petróleo na ponta da broca, sem saber o que vai acontecer. Temos ferramentas que diminuem o risco, mas elas não garantem 100% o que vamos encontrar. Se não, qualquer um furava e encontrava o óleo."

Estrella entrou na Petrobras em 1965 e trabalhou por 29 anos. Decidiu se aposentar em 1994, quando ocupava um dos cargos de maior prestígio: o de superintendente-geral do Centro de Pesquisas. Ele discordara da decisão da em-presa de não promover dois geólogos por serem ligados a Associação dos Engenheiros da Petrobras, na época crítica ferrenha da direção da estatal. Viúvo, ele se mudou para Nova Friburgo, cidade na região serrana do estado do Rio, onde costumava passar as férias na infância. Lá, entregou-se pacatamente à leitura de livros de história natural e filosofia e à observação da natureza: "Sempre fui uma pessoa de múltiplos desejos e interesses. Fiz até curso de catador de semente, subindo em árvores."

Em 2001, Estrella abandonou o idílio e envolveu-se com política partidária, tornando-se presidente do diretório do Partido dos Trabalhadores de Nova Friburgo. "Formamos uma chapa de oposição aos candidatos da direção nacional do PT e vencemos", contou. "Nós éramos o que havia mais à esquerda do partido." Com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2002, José Eduardo Dutra, ex-senador do PT de Sergipe, foi alçado à presidência da companhia, e chamou Estrella de volta para a empresa, dessa vez para o cargo de diretor de Exploração e Produção. "Eu já estava aposentado há oito anos, mas nunca havia perdido o contato com a empresa", explicou. E brincou: "Ao contrário do que acontece com a maior parte dos relacionamentos, a Petrobras é uma relação para a vida inteira."

Seu retorno deu-se em meio a críticas, boa parte vinda dos setores tucanos que haviam dirigido a empresa por oito anos. Dizia-se que era um risco colocar um técnico defasado na diretoria, que é o coração de qualquer companhia de petróleo. E se associou sua nomeação ao "aparelhamento" da empresa. "Para me desmerecer, diziam que a Petrobras tinha ficado tão ideologizada que estavam colocando na diretoria de Exploração e Produção o presidente do microdiretório de Nova Friburgo", contou, rindo.

"Quando cheguei aqui de volta, não encontrei uma empresa de petróleo", ele lembrou. "A Petrobras tinha se transformado em uma instituição financeira. Uma empresa de petróleo tem que correr riscos, tem que ser agressiva na exploração, tem que investir muito e desenvolver tecnologia e conhecimento geológico. Banqueiro não quer correr risco." Seu discurso foi ficando mais inflamado: "Quiseram mudar a cultura da companhia e transformá-la numa empresa exclusivamente comercial. Quiseram trocar seu nome para Petrobrax, mas o povo brasileiro não aceitou. Do Oiapoque ao Chuí se levantaram as mais diferentes vozes, da esquerda à direita, e destruíram aquela iniciativa imbecil de apagar o nome Brasil da maior empresa brasileira, nascida de nossas entranhas."

Estrella apontou para um mapa em que estão demarcadas as áreas hoje em ex-ploração e, mais calmo, continuou: "Veja como as orientações para a exploração de petróleo nos governos Fernando Henrique e Lula são completamente diferentes. Nós vínhamos reduzindo drasticamente a aquisição de blocos. Se não tivéssemos revertido essa tendência, chegaríamos ao final de 2009 praticamente sem áreas para explorar."

Para comprovar sua tese, apresentou números que sabia de cor: "Em 1999, a Petrobras adquiriu 24,3 mil quilômetros quadrados de área para explorar. Em 2002, o número caiu para 14 mil. Em 2003, no governo Lula, subiu para 21 mil e, em 2005, foram 40 mil quilômetros quadrados de novas áreas." Os investimentos em exploração, segundo ele, também aumentaram. Entre 1994 e 2002, a companhia investiu uma média anual de 536 milhões de dólares. De 2003 a 2006, a média saltou para 1,1 bilhão de dólares.

O geólogo José Coutinho, antecessor de Estrella no cargo, justificou a estratégia da Petrobras no governo Fernando Henrique em Infra-estrutura de Energia e Transporte, livro organizado por José Luiz Alquéres. Nele, Coutinho, funcionário de carreira, sustenta que a estatal teve que se adaptar ao fim do monopólio do petróleo. Segundo ele, a Petrobras estava fragmentada em várias ilhas, num imenso arquipélago: "Cada ilha não compartilhava uma visão comum sobre o seu futuro no novo ambiente competitivo. Fez-se, então, um plano estratégico que reestruturou o sistema de governança corporativa e de gestão empresarial."

A visão de que a Petrobras deveria ser uma empresa como qualquer outra - cujo objetivo é dar lucros a custos menores - é questionada por Estrella. No seu entendimento, hoje as empresas de petróleo estão separadas em dois grandes grupos: as NOCs, a sigla em inglês para as companhias nacionais, e as INOCs, as internacionais. As NOCs são, entre outras, a mexicana Pemex, a venezuelana PDVSA e a saudita Saudi Aramco. Entre as INOCs estão a Shell, a Esso e a Chevron. "Ainda que joguemos o mesmo jogo, somos bichos diferentes", disse Estrella. "As NOCs não podem estar preocupadas apenas em dar ganhos aos acionistas, devem também estar comprometidas com o desenvolvimento do país."

Gilberto Lima é o responsável pelo controle de todos os poços em processo de perfuração pela Petrobras. Em sua sala, no 14º andar do edifício-sede, ele passa a maior parte do tempo colado na tela do computador, acompanhando on-line o que acontece em cada um deles. Quando foi dado o sinal verde para o projeto do pré-sal, em meados de 2003, Lima diz que a equipe se preparou para uma operação de guerra. "Passamos meses estudando que equipamentos usar, treinando equipes, contratando sondas e embarcações de apoio", contou. "Pela primeira vez buscaríamos petróleo a tal profundidade e a 300 quilômetros da costa do Rio."

No dia 30 de dezembro de 2004, um navio-sonda foi enviado à Bacia de Santos para a área - hoje chamada de Parati - apontada pelos geólogos como a primeira a ser perfurada. Começava, oficialmente, a exploração no pré-sal. A geóloga Sylvia Anjos é uma morena alta e sorridente. Ela recordou a expectativa dos seus pares com o início da perfuração. "Vínhamos de um período desanimador", disse ela. "Tínhamos passado cinco anos sem encontrar petróleo em todas as áreas novas da Bacia de Campos." O mal-estar era tamanho que os geólogos ficaram malvistos pelos engenheiros.

A área de Parati foi escolhida porque haviam sido identificadas rochas turbidíticas, que ficam acima da camada do sal. Os turbiditos são formados de areia igual à da praia. É nesse tipo de rocha que a Petrobras explora petróleo na Bacia de Campos e onde estão assentadas 80% das reservas nacionais. A idéia era começar a exploração nessas rochas já conhecidas e, se encontrassem petróleo ali, mais tarde desviariam o poço e chegariam ao pré-sal.

O gaúcho Breno Wolff, gerente de Interpretação e Avaliação das Bacias da Costa Sul, é o responsável por toda a Bacia de Santos. "Achávamos que começar a exploração pelos turbiditos era uma forma de economizar", disse ele. "Aproveitaríamos a mesma operação para procurar óleo acima e abaixo do sal." Deu tudo errado. "As rochas foram atravessadas e não se encontrou uma gota de óleo", contou. E a operação acabou ficando muito mais cara do que o orçado.

Partiu-se, sem entusiasmo, para a perfuração nas rochas do pré-sal. Wolff lembra a angústia daqueles dias. Antes de alcançar o pré-sal, a sonda, uma espécie de broca gigante, encontrou uma ca-mada de 500 metros de basalto - uma rocha dura, difícil de perfurar e sem acumulação de petróleo. O basalto geralmente é encontrado no final da perfuração, no que seria o fundo do poço.

A equipe decidiu, no entanto, atravessar a camada basáltica. Foram meses de perfuração. As brocas quebravam e o trabalho tinha que ser suspenso para que os equipamentos fossem reparados. E isso a um custo diário de aluguel de sonda de 500 mil dólares. "Enfrentamos todos os obstáculos nesse poço", lembrou Wolf. "Operações que costumávamos fazer em uma semana em Campos, ali levávamos mais de um mês. Outras companhias talvez não tivessem tido a ousadia de ir até o final."

Em meados de 2005, os parceiros no projeto - a Petrobras, a Chevron e a British Gas - haviam desembolsado mais de 100 milhões de dólares. E estavam longe de alcançar o pré-sal. Era um gasto inédito, quase absurdo. O poço mais caro do mundo tinha sido furado pela Pemex e custara 100 milhões de dólares, o que já havia sido considerado um exagero. A média de custo de perfuração de poços na Bacia de Campos, por exemplo, era de 18 milhões de dólares. Assustada com os custos e as dificuldades, a Chevron abandonou o projeto. Parte de sua participação foi comprada pela Petrobras e pela portuguesa Partex.

"O que nos fazia continuar era o fato de, durante a perfuração, terem surgido sinais de gás", contou Wolff. No dia 30 de março de 2006, um ano e três meses após o início da exploração e a um gasto de 240 milhões de dólares, a perfuração de Parati finalmente chegou ao fim. Numa profundidade de 7 600 metros, foi encontrado um campo gigante de gás e reservatórios de condensado, um óleo leve, indicado para querosene de aviação.

O resultado de Parati, apesar de a maior parte do reservatório ser de gás, e não de óleo, animou a Petrobras a continuar a perfuração em outros blocos. No dia 24 de março de 2006, uma sonda começou o trabalho de perfuração do poço RJS-628A. "Aquela seria a nossa prova de fogo", contou Wolff. "Se não achássemos petróleo ali, o projeto do pré-sal teria que ser abandonado. Nem a companhia, nem os parceiros estariam dispostos a investir tanto dinheiro em outras áreas cujo resultado poderia ser o mesmo." Os custos de exploração do novo poço estavam estimados em quase 100 milhões de dólares. Durante a perfuração, os técnicos envolvidos no projeto viravam noites acompanhando o trabalho da sonda.

Quando a broca finalmente atravessou a camada de sal e atingiu o reservatório, a primeira interpretação foi desanimadora: não havia óleo. Gilberto Lima lembrou que naquele domingo, no final de agosto de 2006, recebeu um telefonema com a má notícia logo cedo. Em seguida ele ligou para Carminatti. A sonda já havia atravessado 5 mil metros desde a superfície do mar. Com a ordem desesperada de Carminatti para continuar a exploração, a broca desceu um pouco mais. Só no final daquele dia eles puderam relaxar. O RJS-628A, hoje batizado de Campo de Tupi, tinha óleo. Já na manhã de segunda-feira houve uma grande comemoração na empresa. "Foi uma descoberta tão espetacular que às vezes eu acho que estou sonhando", contou Carminatti.

Em 2 de setembro, a perfuração foi encerrada. As análises indicaram que só no Campo de Tupi existiam reservas de 5 a 8 bilhões de barris. O sucesso levou à perfuração de mais sete poços. Em todos foi encontrado petróleo. No poço de Iara, próximo a Tupi, foram comprovadas reservas de 3 bilhões de barris. Em novembro de 2007, o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, e o diretor Guilherme Estrella contaram a boa-nova ao presidente Lula, numa reunião no Centro de Pesquisas da Petrobras. Disseram-lhe que toda a área do pré-sal - que se estende do Espírito Santo a Santa Catarina - poderia ser um gigantesco reservatório de petróleo. Como o risco exploratório era praticamente nulo, qualquer empresa que perfurasse ali encontraria óleo.

No encontro com o presidente, Estrella argumentou que seria um crime entregar essa riqueza a empresas que não correram o menor risco para encontrá-la. Diante dessa possibilidade, o governo retirou os blocos do pré-sal da nona rodada de licitação de zonas petrolíferas, que se realizaria dias depois. Ao rememorar esse episódio Estrella se entusiasmou: "O presidente Lula tomou a decisão nacionalista de submeter as áreas do pré-sal a uma nova legislação. O petróleo faz parte do nosso patrimônio estratégico, não pode ser de alguém. Tem que pertencer ao povo brasileiro", disse.

O governo estimou, inicialmente, que as reservas brasileiras poderiam chegar a 70 bilhões de barris. As análises dos outros poços perfurados alteraram essas projeções. As reservas, segundo as últimas estimativas, podem chegar a 150 bilhões de barris. Além de Tupi, os campos de Júpiter e Carioca, descobertos depois, foram listados entre os 50 campos gigantes do mundo. Estudos do Departamento de Energia americano apontam que, em 2030, o Brasil será o quarto maior produtor mundial de petróleo. Na sua página na internet, o Brasil aparece atrás apenas da Arábia Saudita, da Rússia e dos Estados Unidos, com estimativas de produção de 5,7 milhões de barris ao dia.

Em 17 de julho passado, o presidente Lula instituiu uma comissão encarregada de propor a legislação de exploração do pré-sal. Seus integrantes - os ministros da Casa Civil, das Minas e Energia, da Fazenda, do Planejamento, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e o diretor-geral da ANP, Haroldo Lima - sentaram-se à sua volta na sala de reuniões no Palácio do Planalto. Lula olhou para o grupo e perguntou por que o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, não estava presente. Informado de que ele não tinha sido chamado por ser representante de uma empresa, Lula cofiou a barba e ordenou: "Mas essa é a única empresa que eu nomeio o presidente: coloca ele aí."

No final de novembro, Haroldo Lima recebeu-me na sede da ANP, no centro do Rio. Disse que a comissão vinha se reunindo de duas a três vezes por semana e explicou que todas as propostas seguiriam para a apreciação do presidente. Lima adiantou que há consenso na comissão quanto ao modelo para produção nas áreas de pré-sal - será o de "contratos de partilha". Ou seja: a União contrata empresas para explorar o petróleo e as remunera com parte da produção, o que faz com que o governo tenha um controle estrito das reservas. Pelas regras atuais, o modelo é de concessão: as empresas adquirem blocos em leilões da ANP e, caso encontrem petróleo, ficam com tudo o que é produzido, pagando royalties e participações especiais à União, aos estados e municípios.

Se aprovado, o modelo exigirá a criação de uma nova estatal para negociar os contratos. A Petrobras, por ser uma empresa com ações na Bolsa, não poderia administrar contratos e, simultaneamente, disputá-los com outras companhias. "Hoje, como mais de 60% das ações da Petrobras estão no mercado, ela não pode assumir interesses em nome do Estado, pois isso significaria dar privilégios aos seus acionistas", disse Haroldo Lima.

Mesmo assim, a Petrobras será alvo de mudança. O governo quer recomprar parte das ações da companhia no mercado e aumentar a participação do Estado na empresa. Lima contou que há uma grande insatisfação no Planalto com o fato de boa parte das ações da estatal estar nas mãos de investidores estrangeiros. "Isso é o que mais incomoda os membros da comissão", disse.

Um outro ponto defendido pela comissão deverá provocar resistência dos políticos, tanto da situação como da oposição: os recursos obtidos com a produção nas áreas do pré-sal irão para os cofres da União. Não existe qualquer disposição do governo de dividir receitas com estados e municípios, como ocorre com o pagamento de royalties e participações especiais. A defesa desse ponto não é só da comissão, é de Lula. "O presidente foi taxativo: as rendas advindas do pré-sal devem ser controladas pelo governo federal", disse Haroldo Lima. "Ele quer que esse dinheiro seja colocado a serviço do povo para acabar com a pobreza no Brasil."

"Não é só o setor de petróleo que será alterado: será alterada a própria história do Brasil", entusiasmou-se Lima. Antes de celebrar essa perspectiva, será preciso enfrentar desafios maiores do que descer a 5 mil metros de profundidade. José Formigli é o engenheiro responsável pelo planejamento do pré-sal. Cabe a sua equipe criar as condições para colocar os campos em atividade. Todo o esforço que vem sendo feito é para diminuir os custos de produção e tornar o projeto economicamente viável. "Nosso primeiro poço no pré-sal custou 240 milhões de dólares. A esse custo, a produção seria inviável. Os últimos poços que furamos já estão na casa dos 80 milhões. Mas esses valores têm que cair muito mais", disse.

Isso só será possível com o desenvolvimento de novas tecnologias. É preciso, por exemplo, uma metalurgia especial para revestimento de poços e dutos, a fim de evitar que sejam corroídos pela camada de sal. Algumas dessas tecnologias terão que estar disponíveis já em 2009, quando o projeto-piloto de Tupi será -colocado em operação. A previsão é de que até 2010 o poço esteja produzindo 100 mil barris ao dia. As rochas-reservatório do pré-sal são diferentes daquelas de onde a companhia se acostumou a tirar óleo. São rochas carbonáticas, porosas, e o óleo fica entranhado em sua cavidade. Tirá-lo dali exige a criação de tecnologia. "Não é só colocar um canudinho e puxá-lo", disse Formigli. Depois disso, outros poços terão que estar prontos para entrar em produção antes de 2017.

A crise econômica mundial colocou o projeto do pré-sal na sombra da incerteza. Uma das dúvidas é se a produção de petróleo em condições tão adversas continua factível, já que o preço do barril despencou de 150 para 40 dólares em meados de dezembro. Adilson de Oliveira, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é especialista em energia. Do prédio do século XIX do instituto, na Praia Vermelha, ele comandou uma equipe de professores e pesquisadores encarregada pelo governo de fazer um diagnóstico sobre a indústria brasileira de bens e serviços do setor de petróleo.

O resultado foi um relatório de mais de 100 páginas. Quando o estudo foi encomendado, o barril havia superado os 100 dólares. Mas a equipe de Oliveira nunca levou esse preço em consideração. "Era lógico que aquilo não ia se sustentar", disse o economista. O es-tudo trabalha com dois cenários diferentes. Um, com o petróleo na casa de 62?dólares o barril, e outro a 46 dólares o barril. Em ambos, o projeto do pré-sal continua rentável. "Estamos falando de preços que são, no mínino, o dobro do que eram no começo da década", lembrou Oliveira. No caso do petróleo a 62?dólares, estima-se que os investimentos no setor serão de 418?bilhões de -dólares, de 2009 a 2025. A 46?dólares o barril, os investimentos necessários no mesmo período seriam de 337 bilhões de dólares.

O entrave maior no momento não é o preço do petróleo. Para a maior parte do mercado, a alta era irreal. O Departamento de Energia dos Estados Unidos, por exemplo, trabalha com estimativas de preços oscilando entre 55 a 90 dólares o barril, no período de 2007 a 2025, o que representaria um preço médio de 85 dólares. A Pe-trobras também não se assusta com a queda da cotação. Técnicos que trabalham no planejamento da produção no pré-sal asseguram que o projeto é viável com o preço do barril a 35 dólares.

Na avaliação de Oliveira, uma queda de preços abaixo desses patamares não é interessante para os países europeus, os Estados Unidos e a China. Eles sabem que, nesse caso, a produção de petróleo no Brasil, Canadá e África seria desestimulada, deixando-os dependentes dos países árabes e da Venezuela. Ele ilustra sua tese com uma entrevista concedida pelo então secretário de Estado americano, Henry Kissinger, nos anos 70, durante a primeira crise do petróleo, quando os preços subiram de 3 para 12 dólares o barril. Ao ser indagado sobre a questão, Kissinger disse que aquela era a melhor coisa que poderia ter acontecido, pois estimularia a produção de petróleo no Mar do Norte. Foi exatamente o que aconteceu, garantindo estabilidade de preços nas décadas seguintes. "Tudo o que os Estados Unidos e a Europa não querem é ficar dependentes do Oriente Médio", disse Oliveira.

O que mais assusta é a falta de financiamento. Com a crise internacional, as fontes de crédito secaram. A falta de recursos não compromete os investimentos das empresas de petróleo. No caso da Petrobras e suas parceiras, os recursos necessários para a produção no pré-sal entre 2009 e 2015, estimados em 128 bilhões de dólares (sendo 98 bilhões bancados pela estatal), já estão garantidos. "As companhias de petróleo historicamente se autofinanciam", explicou Oliveira. O problema é como garantir recursos para os fornecedores de equipamentos.

O aumento da produção de petróleo exigirá a ampliação significativa da infra-estrutura até 2025. Segundo estimativas do governo, será necessária a construção de 59 plataformas, 8 refinarias e 52 navios. Isso, fora os barcos de apoio, dutos e mais um sem-número de equipamentos periféricos. Como o Brasil não quer ser apenas um exportador de petróleo - como os países do Oriente Médio, da África e a Venezuela -, a idéia é produzir a maior parte aqui mesmo. A grande dúvida é se haverá crédito para financiar esses investimentos. Uma das alternativas, diz Oliveira, é atrair empresas de fora para se instalarem aqui, a fim de que elas banquem seu financiamento. Outra parte terá que ser garantida pelo governo brasileiro.

Existem três pólos fornecedores de bens e serviços de petróleo. Um em Houston, nos Estados Unidos, com cerca de 500 empresas que fornecem para o golfo do México e Venezuela, responsável por adicionar 2,8 bilhões de dólares à economia americana por ano; outro na Ásia, focado na indústria naval; e o último na Inglaterra e Noruega. O que se quer é que o Brasil surja como um novo pólo, fornecendo não só para a indústria nacional, mas para a América do Sul e África. Para isso há urgência em capacitar industrial e tecnologicamente os fornecedores locais de bens e serviços.

Ernani Torres, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES, diz que o modelo de política industrial que a Noruega adotou para capacitar sua indústria, na década de 70, após as descobertas de petróleo no Mar do Norte, é o que o Brasil acredita ser o melhor a ser seguido. A Noruega estabeleceu como condição para as companhias explorarem petróleo a contrapartida de transferirem tecnologia e de adquirirem bens e serviços no mercado local. Também adotou uma política de incentivo direto aos fornecedores locais.

No BNDES, três grupos desenvolvem estudos com vistas a preparar a indústria nacional para as novas demandas por bens e serviços. Um dos gargalos é a pouca integração das empresas brasileiras com o sistema científico e tecnológico das universidades. A capacitação da mão-de-obra é outra grande dificuldade. O Programa de Mobilização da Indústria de Petróleo, coordenado pela Petrobras, já treinou 180 mil pessoas, e o objetivo é treinar mais 120 mil nos próximos dois anos. Mas ainda é um número reduzido frente às necessidades.

Em 2025, com a produção brasileira saltando para 5,7 milhões de barris diários, espera-se que as receitas com exportação do combustível cheguem a 60?bilhões de dólares (caso os preços estejam estabilizados em torno de 60?dólares o barril). A arrecadação fiscal com o pe-tróleo seria de 120 bilhões de dólares.

"O risco de uma entrada tão fácil de recursos é de acomodação", alerta Ernani Torres. "Isso aconteceu em vários países que deixaram sua indústria de-saparecer para viver apenas das receitas geradas pela exportação do óleo."

O governo terá que dar respostas rá-pidas a todas essas questões. As descobertas no pré-sal, ainda que espetaculares, podem ter acontecido no que talvez seja o último sopro da civilização do petróleo. É provável que, já no próximo meio século, novas fontes de energia estejam a ponto de substituí-lo. "Daqui a 50 anos, o petróleo ficará cada vez menos importante, como ocorreu com o carvão no final do século XIX", disse Adilson Oliveira. "O pré-sal é uma grande janela de oportunidade para o Brasil dar um salto tecnológico. Temos 20, 30?anos para isso. É uma oportunidade fantástica, mas não virá naturalmente."

Esquerda e Direita - Quem acha que não existe mais?

Dilma vence na Cisjordânia e Serra ganha em Israel

Gabriel Toueg

Direto de Ramallah
Os resultados divulgados pelas representações diplomáticas do Brasil em Israel e na Cisjordânia repetem os números obtidos no primeiro turno, realizado no último dia 3 de outubro, e nas eleições presidenciais de 2006: A candidata Dilma Roussef (PT) é favorita entre os brasileiros em Ramallah e o adversário José Serra (PSDB) ganha entre os que votaram em Tel Aviv.
Em Tel Aviv o fechamento ocorreu pontualmente às 17h locais, com a urna encerrada sem filas. Serra recebeu 85 votos (78,7%) e Dilma, 19 (17,7%). Houve ainda dois votos nulos e dois brancos. Em Ramallah, onde o envio dos resultados a Brasília ocorreu perto das 18h30 locais, os números foram os seguintes: Dilma ficou com 355 votos (86,8%) e Serra obteve 31 (7,7%). O número de votos em branco foi de sete e nulos, 16.
Um pequeno aumento foi registrado no número de votantes em Tel Aviv no segundo turno em relação à primeira rodada: 108 dos 282 eleitores cadastrados, contra 96 no dia 3 de outubro, que caiu em uma semana de feriado em Israel. Em Ramallah, contudo, o número foi um pouco menor: hoje votaram 409 de um total de 886 registrados, contra 455 no primeiro turno.
No primeiro turno Dilma teve 75% dos votos em Ramallah, contra apenas 5,5% para Serra. Em Tel Aviv foram 59% para Serra e 18% para Dilma. A candidata do PV, Marina Silva, obteve 20% dos votos entre os eleitores em Israel e 3% entre os votantes na Cisjordânia.
Últimas eleições Em 2006, quando houve apenas uma rodada, 823 eleitores estavam aptos a votar em Ramallah e 238 em Tel Aviv. A votação foi bem maior na cidade palestina, com comparecimento de 376 pessoas. Naquele ano, as eleições ocorreram em Israel no feriado de Yom Kipur, motivo pelo qual apenas 39 eleitores compareceram às urnas na ocasião.
Posicionamento político Apesar de os palestinos ainda não terem criado oficialmente um país, os títulos de eleitor dos brasileiros que votam em Ramallah indicam, no campo "Município/UF", a informação "Ramallah-Pale/ZZ". Além do nome da cidade, na qual o escritório do Brasil se localiza, há referência a "Palestina". Os caracteres "ZZ" indicam zona eleitoral no exterior.

O Pre-Sal por Consuelo Dieguez para Revista Piauí


Achar petróleo a 5 mil metros de profundidade exigiu centenas de milhões de dólares e uma operação de guerra. Será preciso muito mais para tirá-lo de lá

CONSUELO DIEGUEZ

"Carminatti, aqui não tem óleo, só tem água."

Era um domingo, no final de agosto de 2006. Mario Carminatti, o

geólogo-chefe da Petrobras, acabara de tomar o café da manhã em sua
casa, em Niterói, e ouvia, atônito e paralisado, a notícia que Gilberto
Lima, o gerente-geral de operações exploratórias da companhia, lhe
passava pelo telefone. Ao recobrar a fala, Carminatti, um gaúcho de 53
anos, cabelos tendendo ao grisalho, olhos azuis e sotaque carregado,
respondeu: "Não é possível, tchê, não faz sentido. Vamos mais fundo
nesse poço, tem que ter petróleo aí embaixo."

As horas que se seguiram foram de angústia. Se a perfuração continuasse
indicando que o poço RJS-628A, na Bacia de Santos, não tinha óleo,
significaria o fracasso de um projeto que começara seis anos antes,
demandara milhares de horas de pesquisa e queima-ra milhões de dólares
em complexas operações de engenharia.

Na segunda rodada da licitação da Agência Nacional do Petróleo, em 2000,
a Petrobras arrematara quatro áreas - chamadas de "blocos" nos meios
petrolíferos - na Bacia de Santos, que era quase desconhecida pelos
geólogos. Para obtê-los, a empresa se associara à British Gas, à
portuguesa Petrogal, à espanhola Repsol-YPF e à americana Chevron.
Juntas, elas desembolsaram 285 milhões de dólares. Com uma participação
de mais de 60% no negócio, a companhia brasileira entrara com a maior
parte dos recursos.

Com as descobertas dos campos gigantes de Marlim e Roncador, na Bacia de
Campos, na década de 90, Santos ficara abandonada. O desinteresse se
justificava, ademais, pela incerteza de ali haver óleo: os estudos
preliminares não haviam sido animadores. Com o fim do ciclo de
descobertas na Bacia de Campos, a Petrobras tinha que recompor suas
reservas de 14 bilhões de barris. Só então a Bacia de Santos surgiu como
alternativa de prospecção.

Dirigida na época pelo economista Henri Philippe Reichstul, a estatal
encomendou um programa de dados sísmicos em três dimensões - o maior
desenvolvido até então no mundo - para mapear a área de 20 mil
quilômetros quadrados dos quatro blocos. Por meio de explosões que
emitiram ondas sísmicas, os aparelhos de 3D instalados em
navios-plataforma produziram imagens do fundo do mar. O programa levou
dois anos até gerar dados que pudessem ser interpretados pelos geólogos
da companhia.

As imagens captadas revelaram a existência de grandes elevações sob uma
extensa camada de sal - em teoria, elas poderiam ser reservatórios de
petróleo. "As evidências eram muito boas", contou Carminatti durante uma
conversa em sua sala, na sede da Petrobras, no centro do Rio. "As
imagens indicaram a existência de alguns dados vitais: uma rocha
geradora de petróleo, com uma rota fí-sica por onde ele pudesse passar;
uma rocha-reservatório, onde o óleo pudesse se acumular; uma rocha que
pudesse aprisioná-lo e, por fim, um selo fechando toda essa estrutura. E
não poderia haver selo melhor do que uma camada de 2?quilômetros de
sal."

Em fevereiro de 2003, a elite dos técnicos da empresa - um grupo de
vinte geólogos, geocientistas e engenheiros - reuniu-se a portas
fechadas para ouvir as conclusões do estudo. Carminatti informou-lhes
que havia a possibilidade de existir grande quantidade de petróleo na
região. Mas isso só poderia ser comprovado com a perfuração dos poços, o
que gerava dois problemas descomunais. Primeiro, as áreas com potencial
ficavam entre 5 e 7 mil metros de profundidade. E o máximo que a
Petrobras havia atingido era uma profundidade de 1 886 metros - o que já
era um recorde mundial. Em segundo lugar, tratava-se de buscar petróleo
em rochas desconhecidas, que estavam ali há 120 milhões de anos, antes
mesmo de serem cobertas pelo mar e de o sal ter se acumulado sobre elas.
Cabia àquele punhado de técnicos analisar, de início, se valia a pena
dar continuidade ao projeto. A companhia estaria disposta a investir
milhões de dólares num projeto novo e sem garantia de haver petróleo?
Decidido o prosseguimento, seria necessário definir a prioridade na
exploração - ou seja, dos quatro blocos adquiridos, qual seria
prospectado primeiro, com base nos estudos sísmicos.

Havia, por fim, uma questão legal. Pelas regras da Agência Nacional do
Petróleo, a ANP, as empresas que adquiriram blocos em leilão tinham um
prazo para estudar os dados obtidos com os levantamentos sísmicos. Feito
isso, deveriam optar ou não pela sua exploração, mas podiam permanecer
com no máximo 50% das áreas, devolvendo o restante para a Agência. E era
aquele grupo que teria que indicar as áreas a serem devolvidas. "Tudo
isso gerou uma ansiedade muito grande", lembrou Carminatti. "Todo o
nosso conhecimento geológico estava sendo posto em xeque. Um erro de
avaliação poderia causar pesados prejuízos à Petrobras e a seus
parceiros."

Àquela reunião seguiram-se inúmeras outras, cada vez mais tensas. Parte
do grupo achava um delírio perfurar a mais de 5 mil metros de
profundidade, numa área desconhecida. "Não era só a questão de se
haveria ou não o óleo, mas se teríamos equipamentos para descer a tal
profundidade e como se comportaria a camada de 2 quilômetros de sal, que
nenhuma empresa no mundo jamais ousara atravessar", disse Carminatti. O
grupo não chegou a um consenso. A posição majoritária, de continuar com
o projeto, foi levada a Guilherme Estrella, diretor de Exploração e
Produção da Petrobras.

Guilherme Estrella é um geólogo de 66 anos, cujo rosto rechonchudo e a
calva lhe conferem um aspecto bonachão. A imagem de sujeito pacato,
avesso a celeumas, se desmancha logo que começa a falar sobre o pré-sal.
No final de outubro, ele me recebeu em sua ampla sala, no 18º andar do
prédio da Petrobras, de onde se tem uma bela vista para as montanhas de
Santa Teresa. "Muita gente fala que tivemos sorte. Sorte uma ova",
disse. "O pré-sal é resultado do estabelecimento de metas exploratórias,
da exploração de petróleo na ponta da broca, sem saber o que vai acontecer. Temos ferramentas que diminuem o risco, mas elas
não garantem 100% o que vamos encontrar. Se não, qualquer um furava e
encontrava o óleo."

Estrella entrou na Petrobras em 1965 e trabalhou por 29 anos. Decidiu se
aposentar em 1994, quando ocupava um dos cargos de maior prestígio: o
de superintendente-geral do Centro de Pesquisas. Ele discordara da
decisão da em-presa de não promover dois geólogos por serem ligados a
Associação dos Engenheiros da Petrobras, na época crítica ferrenha da
direção da estatal. Viúvo, ele se mudou para Nova Friburgo, cidade na
região serrana do estado do Rio, onde costumava passar as férias na
infância. Lá, entregou-se pacatamente à leitura de livros de história
natural e filosofia e à observação da natureza: "Sempre fui uma pessoa
de múltiplos desejos e interesses. Fiz até curso de catador de semente,
subindo em árvores."

Em 2001, Estrella abandonou o idílio e envolveu-se com política
partidária, tornando-se presidente do diretório do Partido dos
Trabalhadores de Nova Friburgo. "Formamos uma chapa de oposição aos
candidatos da direção nacional do PT e vencemos", contou. "Nós éramos o
que havia mais à esquerda do partido." Com a vitória de Luiz Inácio Lula
da Silva nas eleições de 2002, José Eduardo Dutra, ex-senador do PT de
Sergipe, foi alçado à presidência da companhia, e chamou Estrella de
volta para a empresa, dessa vez para o cargo de diretor de Exploração e
Produção. "Eu já estava aposentado há oito anos, mas nunca havia perdido
o contato com a empresa", explicou. E brincou: "Ao contrário do que
acontece com a maior parte dos relacionamentos, a Petrobras é uma
relação para a vida inteira."

Seu retorno deu-se em meio a críticas, boa parte vinda dos setores
tucanos que haviam dirigido a empresa por oito anos. Dizia-se que era um
risco colocar um técnico defasado na diretoria, que é o coração de
qualquer companhia de petróleo. E se associou sua nomeação ao
"aparelhamento" da empresa. "Para me desmerecer, diziam que a Petrobras
tinha ficado tão ideologizada que estavam colocando na diretoria de
Exploração e Produção o presidente do microdiretório de Nova Friburgo",
contou, rindo.

"Quando cheguei aqui de volta, não encontrei uma empresa de petróleo",
ele lembrou. "A Petrobras tinha se transformado em uma instituição
financeira. Uma empresa de petróleo tem que correr riscos, tem que ser
agressiva na exploração, tem que investir muito e desenvolver tecnologia
e conhecimento geológico. Banqueiro não quer correr risco." Seu
discurso foi ficando mais inflamado: "Quiseram mudar a cultura da
companhia e transformá-la numa empresa exclusivamente comercial.
Quiseram trocar seu nome para Petrobrax, mas o povo brasileiro não
aceitou. Do Oiapoque ao Chuí se levantaram as mais diferentes vozes, da
esquerda à direita, e destruíram aquela iniciativa imbecil de apagar o
nome Brasil da maior empresa brasileira, nascida de nossas entranhas."

Estrella apontou para um mapa em que estão demarcadas as áreas hoje em
ex-ploração e, mais calmo, continuou: "Veja como as orientações para a
exploração de petróleo nos governos Fernando Henrique e Lula são
completamente diferentes. Nós vínhamos reduzindo drasticamente a
aquisição de blocos. Se não tivéssemos revertido essa tendência,
chegaríamos ao final de 2009 praticamente sem áreas para explorar."

Para comprovar sua tese, apresentou números que sabia de cor: "Em 1999, a
Petrobras adquiriu 24,3 mil quilômetros quadrados de área para
explorar. Em 2002, o número caiu para 14 mil. Em 2003, no governo Lula,
subiu para 21 mil e, em 2005, foram 40 mil quilômetros quadrados de
novas áreas." Os investimentos em exploração, segundo ele, também
aumentaram. Entre 1994 e 2002, a companhia investiu uma média anual de
536 milhões de dólares. De 2003 a 2006, a média saltou para 1,1 bilhão
de dólares.

O geólogo José Coutinho, antecessor de Estrella no cargo, justificou a
estratégia da Petrobras no governo Fernando Henrique em Infra-estrutura
de Energia e Transporte, livro organizado por José Luiz Alquéres. Nele,
Coutinho, funcionário de carreira, sustenta que a estatal teve que se
adaptar ao fim do monopólio do petróleo. Segundo ele, a Petrobras estava
fragmentada em várias ilhas, num imenso arquipélago: "Cada ilha não
compartilhava uma visão comum sobre o seu futuro no novo ambiente
competitivo. Fez-se, então, um plano estratégico que reestruturou o
sistema de governança corporativa e de gestão empresarial."

A visão de que a Petrobras deveria ser uma empresa como qualquer outra -
cujo objetivo é dar lucros a custos menores - é questionada por
Estrella. No seu entendimento, hoje as empresas de petróleo estão
separadas em dois grandes grupos: as NOCs, a sigla em inglês para as
companhias nacionais, e as INOCs, as internacionais. As NOCs são, entre
outras, a mexicana Pemex, a venezuelana PDVSA e a saudita Saudi Aramco.
Entre as INOCs estão a Shell, a Esso e a Chevron. "Ainda que joguemos o
mesmo jogo, somos bichos diferentes", disse Estrella. "As NOCs não podem
estar preocupadas apenas em dar ganhos aos acionistas, devem também
estar comprometidas com o desenvolvimento do país."

Gilberto Lima é o responsável pelo controle de todos os poços em
processo de perfuração pela Petrobras. Em sua sala, no 14º andar do
edifício-sede, ele passa a maior parte do tempo colado na tela do
computador, acompanhando on-line o que acontece em cada um deles. Quando
foi dado o sinal verde para o projeto do pré-sal, em meados de 2003,
Lima diz que a equipe se preparou para uma operação de guerra. "Passamos
meses estudando que equipamentos usar, treinando equipes, contratando
sondas e embarcações de apoio", contou. "Pela primeira vez buscaríamos
petróleo a tal profundidade e a 300 quilômetros da costa do Rio."

No dia 30 de dezembro de 2004, um navio-sonda foi enviado à Bacia de
Santos para a área - hoje chamada de Parati - apontada pelos geólogos
como a primeira a ser perfurada. Começava, oficialmente, a exploração no
pré-sal. A geóloga Sylvia Anjos é uma morena alta e sorridente. Ela
recordou a expectativa dos

seus pares com o início da perfuração. "Vínhamos de um período desanimador", disse ela. "Tínhamos passado cinco anos sem encontrar
petróleo em todas as áreas novas da Bacia de Campos." O mal-estar era
tamanho que os geólogos ficaram malvistos pelos engenheiros.

A área de Parati foi escolhida porque haviam sido identificadas rochas
turbidíticas, que ficam acima da camada do sal. Os turbiditos são
formados de areia igual à da praia. É nesse tipo de rocha que a
Petrobras explora petróleo na Bacia de Campos e onde estão assentadas
80% das reservas nacionais. A idéia era começar a exploração nessas
rochas já conhecidas e, se encontrassem petróleo ali, mais tarde
desviariam o poço e chegariam ao pré-sal.

O gaúcho Breno Wolff, gerente de Interpretação e Avaliação das Bacias da
Costa Sul, é o responsável por toda a Bacia de Santos. "Achávamos que
começar a exploração pelos turbiditos era uma forma de economizar",
disse ele. "Aproveitaríamos a mesma operação para procurar óleo acima e
abaixo do sal." Deu tudo errado. "As rochas foram atravessadas e não se
encontrou uma gota de óleo", contou. E a operação acabou ficando muito
mais cara do que o orçado.

Partiu-se, sem entusiasmo, para a perfuração nas rochas do pré-sal.
Wolff lembra a angústia daqueles dias. Antes de alcançar o pré-sal, a
sonda, uma espécie de broca gigante, encontrou uma ca-mada de 500 metros
de basalto - uma rocha dura, difícil de perfurar e sem acumulação de
petróleo. O basalto geralmente é encontrado no final da perfuração, no
que seria o fundo do poço.

A equipe decidiu, no entanto, atravessar a camada basáltica. Foram meses
de perfuração. As brocas quebravam e o trabalho tinha que ser suspenso
para que os equipamentos fossem reparados. E isso a um custo diário de
aluguel de sonda de 500 mil dólares. "Enfrentamos todos os obstáculos
nesse poço", lembrou Wolf. "Operações que costumávamos fazer em uma
semana em Campos, ali levávamos mais de um mês. Outras companhias talvez
não tivessem tido a ousadia de ir até o final."

Em meados de 2005, os parceiros no projeto - a Petrobras, a Chevron e a
British Gas - haviam desembolsado mais de 100 milhões de dólares. E
estavam longe de alcançar o pré-sal. Era um gasto inédito, quase
absurdo. O poço mais caro do mundo tinha sido furado pela Pemex e
custara 100 milhões de dólares, o que já havia sido considerado um
exagero. A média de custo de perfuração de poços na Bacia de Campos, por
exemplo, era de 18 milhões de dólares. Assustada com os custos e as
dificuldades, a Chevron abandonou o projeto. Parte de sua participação
foi comprada pela Petrobras e pela portuguesa Partex.

"O que nos fazia continuar era o fato de, durante a perfuração, terem
surgido sinais de gás", contou Wolff. No dia 30 de março de 2006, um ano
e três meses após o início da exploração e a um gasto de 240 milhões de
dólares, a perfuração de Parati finalmente chegou ao fim. Numa
profundidade de 7 600 metros, foi encontrado um campo gigante de gás e
reservatórios de condensado, um óleo leve, indicado para querosene de
aviação.

O resultado de Parati, apesar de a maior parte do reservatório ser de
gás, e não de óleo, animou a Petrobras a continuar a perfuração em
outros blocos. No dia 24 de março de 2006, uma sonda começou o trabalho
de perfuração do poço RJS-628A. "Aquela seria a nossa prova de fogo",
contou Wolff. "Se não achássemos petróleo ali, o projeto do pré-sal
teria que ser abandonado. Nem a companhia, nem os parceiros estariam
dispostos a investir tanto dinheiro em outras áreas cujo resultado
poderia ser o mesmo." Os custos de exploração do novo poço estavam
estimados em quase 100 milhões de dólares. Durante a perfuração, os
técnicos envolvidos no projeto viravam noites acompanhando o trabalho da
sonda.

Quando a broca finalmente atravessou a camada de sal e atingiu o
reservatório, a primeira interpretação foi desanimadora: não havia óleo.
Gilberto Lima lembrou que naquele domingo, no final de agosto de 2006,
recebeu um telefonema com a má notícia logo cedo. Em seguida ele ligou
para Carminatti. A sonda já havia atravessado 5 mil metros desde a
superfície do mar. Com a ordem desesperada de Carminatti para continuar a
exploração, a broca desceu um pouco mais. Só no final daquele dia eles
puderam relaxar. O RJS-628A, hoje batizado de Campo de Tupi, tinha óleo.
Já na manhã de segunda-feira houve uma grande comemoração na empresa.
"Foi uma descoberta tão espetacular que às vezes eu acho que estou
sonhando", contou Carminatti.

Em 2 de setembro, a perfuração foi encerrada. As análises indicaram que
só no Campo de Tupi existiam reservas de 5 a 8 bilhões de barris. O
sucesso levou à perfuração de mais sete poços. Em todos foi encontrado
petróleo. No poço de Iara, próximo a Tupi, foram comprovadas reservas de
3 bilhões de barris. Em novembro de 2007, o presidente da Petrobras,
Sérgio Gabrielli, e o diretor Guilherme Estrella contaram a boa-nova ao
presidente Lula, numa reunião no Centro de Pesquisas da Petrobras.
Disseram-lhe que toda a área do pré-sal - que se estende do Espírito
Santo a Santa Catarina - poderia ser um gigantesco reservatório de
petróleo. Como o risco exploratório era praticamente nulo, qualquer
empresa que perfurasse ali encontraria óleo.

No encontro com o presidente, Estrella argumentou que seria um crime
entregar essa riqueza a empresas que não correram o menor risco para
encontrá-la. Diante dessa possibilidade, o governo retirou os blocos do
pré-sal da nona rodada de licitação de zonas petrolíferas, que se
realizaria dias depois. Ao rememorar esse episódio Estrella se
entusiasmou: "O presidente Lula tomou a decisão nacionalista de submeter
as áreas do pré-sal a uma nova legislação. O petróleo faz parte do
nosso patrimônio estratégico, não pode ser de alguém. Tem que pertencer
ao povo brasileiro", disse.

O governo estimou, inicialmente, que as reservas brasileiras poderiam chegar a 70 bilhões
de barris. As análises dos outros poços perfurados alteraram essas
projeções. As reservas, segundo as últimas estimativas, podem chegar a
150 bilhões de barris. Além de Tupi, os campos de Júpiter e Carioca,
descobertos depois, foram listados entre os 50 campos gigantes do mundo.
Estudos do Departamento de Energia americano apontam que, em 2030, o
Brasil será o quarto maior produtor mundial de petróleo. Na sua página
na internet, o Brasil aparece atrás apenas da Arábia Saudita, da Rússia e
dos Estados Unidos, com estimativas de produção de 5,7 milhões de
barris ao dia.

Em 17 de julho passado, o presidente Lula instituiu uma comissão
encarregada de propor a legislação de exploração do pré-sal. Seus
integrantes - os ministros da Casa Civil, das Minas e Energia, da
Fazenda, do Planejamento, o presidente do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social e o diretor-geral da ANP, Haroldo
Lima - sentaram-se à sua volta na sala de reuniões no Palácio do
Planalto. Lula olhou para o grupo e perguntou por que o presidente da
Petrobras, Sérgio Gabrielli, não estava presente. Informado de que ele
não tinha sido chamado por ser representante de uma empresa, Lula cofiou
a barba e ordenou: "Mas essa é a única empresa que eu nomeio o
presidente: coloca ele aí."

No final de novembro, Haroldo Lima recebeu-me na sede da ANP, no centro
do Rio. Disse que a comissão vinha se reunindo de duas a três vezes por
semana e explicou que todas as propostas seguiriam para a apreciação do
presidente. Lima adiantou que há consenso na comissão quanto ao modelo
para produção nas áreas de pré-sal - será o de "contratos de partilha".
Ou seja: a União contrata empresas para explorar o petróleo e as
remunera com parte da produção, o que faz com que o governo tenha um
controle estrito das reservas. Pelas regras atuais, o modelo é de
concessão: as empresas adquirem blocos em leilões da ANP e, caso
encontrem petróleo, ficam com tudo o que é produzido, pagando royalties e
participações especiais à União, aos estados e municípios.

Se aprovado, o modelo exigirá a criação de uma nova estatal para
negociar os contratos. A Petrobras, por ser uma empresa com ações na
Bolsa, não poderia administrar contratos e, simultaneamente, disputá-los
com outras companhias. "Hoje, como mais de 60% das ações da Petrobras
estão no mercado, ela não pode assumir interesses em nome do Estado,
pois isso significaria dar privilégios aos seus acionistas", disse
Haroldo Lima.

Mesmo assim, a Petrobras será alvo de mudança. O governo quer recomprar
parte das ações da companhia no mercado e aumentar a participação do
Estado na empresa. Lima contou que há uma grande insatisfação no
Planalto com o fato de boa parte das ações da estatal estar nas mãos de
investidores estrangeiros. "Isso é o que mais incomoda os membros da
comissão", disse.

Um outro ponto defendido pela comissão deverá provocar resistência dos
políticos, tanto da situação como da oposição: os recursos obtidos com a
produção nas áreas do pré-sal irão para os cofres da União. Não existe
qualquer disposição do governo de dividir receitas com estados e
municípios, como ocorre com o pagamento de royalties e participações
especiais. A defesa desse ponto não é só da comissão, é de Lula. "O
presidente foi taxativo: as rendas advindas do pré-sal devem ser
controladas pelo governo federal", disse Haroldo Lima. "Ele quer que
esse dinheiro seja colocado a serviço do povo para acabar com a pobreza
no Brasil."

"Não é só o setor de petróleo que será alterado: será alterada a própria
história do Brasil", entusiasmou-se Lima. Antes de celebrar essa
perspectiva, será preciso enfrentar desafios maiores do que descer a 5
mil metros de profundidade. José Formigli é o engenheiro responsável
pelo planejamento do pré-sal. Cabe a sua equipe criar as condições para
colocar os campos em atividade. Todo o esforço que vem sendo feito é
para diminuir os custos de produção e tornar o projeto economicamente
viável. "Nosso primeiro poço no pré-sal custou 240 milhões de dólares. A
esse custo, a produção seria inviável. Os últimos poços que furamos já
estão na casa dos 80 milhões. Mas esses valores têm que cair muito
mais", disse.

Isso só será possível com o desenvolvimento de novas tecnologias. É
preciso, por exemplo, uma metalurgia especial para revestimento de poços
e dutos, a fim de evitar que sejam corroídos pela camada de sal.
Algumas dessas tecnologias terão que estar disponíveis já em 2009,
quando o projeto-piloto de Tupi será -colocado em operação. A previsão é
de que até 2010 o poço esteja produzindo 100 mil barris ao dia. As
rochas-reservatório do pré-sal são diferentes daquelas de onde a
companhia se acostumou a tirar óleo. São rochas carbonáticas, porosas, e
o óleo fica entranhado em sua cavidade. Tirá-lo dali exige a criação de
tecnologia. "Não é só colocar um canudinho e puxá-lo", disse Formigli.
Depois disso, outros poços terão que estar prontos para entrar em
produção antes de 2017.

A crise econômica mundial colocou o projeto do pré-sal na sombra da
incerteza. Uma das dúvidas é se a produção de petróleo em condições tão
adversas continua factível, já que o preço do barril despencou de 150
para 40 dólares em meados de dezembro. Adilson de Oliveira, do Instituto
de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é especialista
em energia. Do prédio do século XIX do instituto, na Praia Vermelha, ele
comandou uma equipe de professores e pesquisadores encarregada pelo
governo de fazer um diagnóstico sobre a indústria brasileira de bens e
serviços do setor de petróleo.

O resultado foi um relatório de mais de 100 páginas. Quando o estudo foi
encomendado, o barril havia superado os 100 dólares. Mas a equipe de
Oliveira nunca levou esse preço em consideração. "Era lógico que aquilo
não ia se sustentar", disse o economista. O estudo trabalha com dois cenários diferentes. Um, com o petróleo na casa de 62?dólares o
barril, e outro a 46 dólares o barril. Em ambos, o projeto do pré-sal
continua rentável. "Estamos falando de preços que são, no mínino, o
dobro do que eram no começo da década", lembrou Oliveira. No caso do
petróleo a 62?dólares, estima-se que os investimentos no setor serão de
418?bilhões de -dólares, de 2009 a 2025. A 46?dólares o barril, os
investimentos necessários no mesmo período seriam de 337 bilhões de
dólares.

O entrave maior no momento não é o preço do petróleo. Para a maior parte
do mercado, a alta era irreal. O Departamento de Energia dos Estados
Unidos, por exemplo, trabalha com estimativas de preços oscilando entre
55 a 90 dólares o barril, no período de 2007 a 2025, o que representaria
um preço médio de 85 dólares. A Pe-trobras também não se assusta com a
queda da cotação. Técnicos que trabalham no planejamento da produção no
pré-sal asseguram que o projeto é viável com o preço do barril a 35
dólares.

Na avaliação de Oliveira, uma queda de preços abaixo desses patamares
não é interessante para os países europeus, os Estados Unidos e a China.
Eles sabem que, nesse caso, a produção de petróleo no Brasil, Canadá e
África seria desestimulada, deixando-os dependentes dos países árabes e
da Venezuela. Ele ilustra sua tese com uma entrevista concedida pelo
então secretário de Estado americano, Henry Kissinger, nos anos 70,
durante a primeira crise do petróleo, quando os preços subiram de 3 para
12 dólares o barril. Ao ser indagado sobre a questão, Kissinger disse
que aquela era a melhor coisa que poderia ter acontecido, pois
estimularia a produção de petróleo no Mar do Norte. Foi exatamente o que
aconteceu, garantindo estabilidade de preços nas décadas seguintes.
"Tudo o que os Estados Unidos e a Europa não querem é ficar dependentes
do Oriente Médio", disse Oliveira.

O que mais assusta é a falta de financiamento. Com a crise
internacional, as fontes de crédito secaram. A falta de recursos não
compromete os investimentos das empresas de petróleo. No caso da
Petrobras e suas parceiras, os recursos necessários para a produção no
pré-sal entre 2009 e 2015, estimados em 128 bilhões de dólares (sendo 98
bilhões bancados pela estatal), já estão garantidos. "As companhias de
petróleo historicamente se autofinanciam", explicou Oliveira. O problema
é como garantir recursos para os fornecedores de equipamentos.

O aumento da produção de petróleo exigirá a ampliação significativa da
infra-estrutura até 2025. Segundo estimativas do governo, será
necessária a construção de 59 plataformas, 8 refinarias e 52 navios.
Isso, fora os barcos de apoio, dutos e mais um sem-número de
equipamentos periféricos. Como o Brasil não quer ser apenas um
exportador de petróleo - como os países do Oriente Médio, da África e a
Venezuela -, a idéia é produzir a maior parte aqui mesmo. A grande
dúvida é se haverá crédito para financiar esses investimentos. Uma das
alternativas, diz Oliveira, é atrair empresas de fora para se instalarem
aqui, a fim de que elas banquem seu financiamento. Outra parte terá que
ser garantida pelo governo brasileiro.

Existem três pólos fornecedores de bens e serviços de petróleo. Um em
Houston, nos Estados Unidos, com cerca de 500 empresas que fornecem para
o golfo do México e Venezuela, responsável por adicionar 2,8 bilhões de
dólares à economia americana por ano; outro na Ásia, focado na
indústria naval; e o último na Inglaterra e Noruega. O que se quer é que
o Brasil surja como um novo pólo, fornecendo não só para a indústria
nacional, mas para a América do Sul e África. Para isso há urgência em
capacitar industrial e tecnologicamente os fornecedores locais de bens e
serviços.

Ernani Torres, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o
BNDES, diz que o modelo de política industrial que a Noruega adotou
para capacitar sua indústria, na década de 70, após as descobertas de
petróleo no Mar do Norte, é o que o Brasil acredita ser o melhor a ser
seguido. A Noruega estabeleceu como condição para as companhias
explorarem petróleo a contrapartida de transferirem tecnologia e de
adquirirem bens e serviços no mercado local. Também adotou uma política
de incentivo direto aos fornecedores locais.

No BNDES, três grupos desenvolvem estudos com vistas a preparar a
indústria nacional para as novas demandas por bens e serviços. Um dos
gargalos é a pouca integração das empresas brasileiras com o sistema
científico e tecnológico das universidades. A capacitação da mão-de-obra
é outra grande dificuldade. O Programa de Mobilização da Indústria de
Petróleo, coordenado pela Petrobras, já treinou 180 mil pessoas, e o
objetivo é treinar mais 120 mil nos próximos dois anos. Mas ainda é um
número reduzido frente às necessidades.

Em 2025, com a produção brasileira saltando para 5,7 milhões de barris
diários, espera-se que as receitas com exportação do combustível cheguem
a 60?bilhões de dólares (caso os preços estejam estabilizados em torno
de 60?dólares o barril). A arrecadação fiscal com o pe-tróleo seria de
120 bilhões de dólares.

"O risco de uma entrada tão fácil de recursos é de acomodação", alerta
Ernani Torres. "Isso aconteceu em vários países que deixaram sua
indústria de-saparecer para viver apenas das receitas geradas pela
exportação do óleo."

O governo terá que dar respostas rá-pidas a todas essas questões. As
descobertas no pré-sal, ainda que espetaculares, podem ter acontecido no
que talvez seja o último sopro da civilização do petróleo. É provável
que, já no próximo meio século, novas fontes de energia estejam a ponto
de substituí-lo. "Daqui a 50 anos, o petróleo ficará cada vez menos
importante, como ocorreu com o carvão no final do século XIX", disse
Adilson Oliveira. "O pré-sal é uma grande janela de oportunidade para o
Brasil dar um salto tecnológico. Temos 20, 30?anos para isso. É uma
oportunidade fantástica, mas não virá naturalmente.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Dia 31 é 13 ao contrário - Dá Dilma - Mil-da

Assisti o debate do meio pro fim pois estava assistindo o Tricolor de Aço vencer o Paraná. Debate modorrento. Mal formatado. Insípido. Inodoro. Insosso. Diet. Niet. Ninguém venceu, embora Serra continue mentindo como de costume. Achei que a Dilma ficaria melhor com um taieur amarelo ou vermelho do que com aquele slack que cintura demais ela, que tá gordinha, e mostra um certo jeito desajeitado de andar e resmungar. Não achei legal os takes de câmera do derrière dos candidatos. Foram tomados em abundância. Se alguém ganhou foi a Globo com a audiência, se alguém perdeu foi a nossa paciência. Por sorte, a jaca foi lançada. Alea jacta est. Domingo e dia do Senhor. Dominus tecum. Dia 31 é 13 ao contrário, ambos somados dão 4, quatro anos de Dilma. Mil-da.

O Terrorismo de Serra

O

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Best of Garrincha

Serra Pede O Voto Quirica Na Buçanha

Serra pede que mineiras conquistem votos de seus pretendentes

Rodrigo Bertolotto
Enviado especial do UOL Eleições
Em Uberlândia
“Se você é uma menina bonita, tem que conseguir 15 votos. Pegue a lista de pretendentes e mande um e-mail. Fale que quem votar em mim tem mais chance com você”, pediu o presidenciável  tucano, José Serra, diante de simpatizantes em Uberlândia (MG), nesta quinta-feira (28).
Em sua terceira visita a Minas Gerais no segundo turno, o candidato inovou seu discurso ao pedir votos diante de um auditório animado em clube da cidade.
O clima de festa foi garantido por grupos de batucada e fanfarra contratados, além de cerca de cinco ônibus vindos de Belo Horizonte com militantes, que recebem R$ 40 por dia. Para completar, Aécio Neves, senador eleito pelo PSDB-MG, causou gritos do público feminino e coro e cânticos do masculino.
A agenda mineira começou com um atraso de duas horas e meia do previsto inicialmente, mas o político soube se desculpar. “Fiquei até às 4h da manhã gravando o programa de encerramento [do horário eleitoral]. O pessoal falou até para cancelar a vinda a Minas. Mas aqui eu venho para me revigorar”, disse o tucano.
O paulista não poupou elogios ao Estado e seus habitantes. “Minas é o centro do país. É a síntese. E Minas vai decidir essa eleição”, afirmou em seu pronunciamento. No primeiro turno, sua principal rival, a petista Dilma Rousseff, ganhou entre os mineiros e também na cidade de Uberlândia.
Os militantes distribuíam adesivos com a frase “Agora Minas é Serra”, o que contrastava com o cenário no primeiro turno, quando a propaganda política de Aécio e do governador eleito, Antônio Anastasia (PSDB), quase não trazia referência ao candidato tucano ao Planalto. Serra disse que já tem um programa para Minas acertado com Anastasia e Aécio.
Além de citações já usadas em sua campanha, como fazer referência à Bíblia, falar que está de “coração leve e cabeça erguida” e comentar o “rol de escândalos” do governo federal, Serra aproveitou a crítica feita por um sindicalista bancário da região ao governo e afirmou que Lula privatizou a Caixa e o Banco do Brasil. “Esses bancos têm que servir o povo, não a grupos”, afirmou.