Eu Quero A Menina

Eu Quero A Menina (Ruy Penalva) Só não viu foi quem não quis O perdão tergiversar Quando aquele monstro feiticeiro Tomou conta do lugar Chegou, pediu, minto, exigiu A mais linda virgem pra levar A mais atraente A mais comovente A mais sempre a mais dentre as mais Pegou a menina Levou a menina Roubou a menina, sumiu Ninguém soube dela Ninguém mais revela Ninguém disse ao menos um piu! Já depois muito depois Bem no céu apareceu Um grande cometa Talvez um planeta Eu sei uma estrela nasceu Eu quero a menina Me tragam a menina Eu quero a menina porque No fim novela Só eu gosto dela Só eu vou poder desfazer Tamanho encanto Dum forte quebrando Que um dia pôs tudo a perder Um grande momento Meu contentamento De um dia casar com você

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quarta-feira, 7 de abril de 2010

Fala

Fala

Não gosto quando você se cala,
Prefiro sua fala a povoar minha solidão.
Quando de silêncio se insula a sala,
E a angustia no meu peito entala,
Fala, ainda que não lhe empreste atenção

Ruy Penalva 2009.

Foi Um Eflúvio

Foi Um Eflúvio (Ruy Penalva)

Foi um eflúvio
Foi um dilúvio
Uma fluviação
Uma coivara
Na bleba avara
Por uma tara
De uma vara
Na boca amara
Na sucção
Do meu bastão
No bastião
Que a vala vara
Varando a cara
Velando a vela
Que parafina
Que se reclina
Quando declina
O vau do véu
O sal do céu
O mel do mau
O mal do mel
O meu chapéu
O meu bornal
A minha sina
O meu sinal
A minha lata
A minha luta
À força bruta
Enfim dilata

Preciso Te Ver

Preciso Te Ver

Preciso te ver
Para dizer
Que eu não quero mais te ver,
Mas para dizer
Que não quero mais ter ver
Eu na verdade nem preciso mais te ver.

Não é confusão
Nem é a vã filosofia,
É que já não arde a chama
Como antigamente ardia.

Não é confusão
Nem filosofia vã,
Mas não é todo dia
Que eu passo com maça.

Ruy Penalva, 07/10/2010

Dilma X Serra

Dilma é o Lulismo, Serra é o Nulismo (Ruy Penalva)

domingo, 4 de abril de 2010

Fotos

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Coisas de Mulher

Coisas de Mulher



Naquele dia Neide estava falante. Solta. Mais gordinha do que quando a vira da última vez; quase a não reconheceu. Corada. Desandou a falar de seus sentimentos. De como gostava de fazer no seu relacionamento pessoal, de como tratava o marido, dos dengos que nele fazia, de como homem gosta de ser enrolado, da conversa que tinha tido na viagem com um passageiro sobre as artes que fazia para tornar o casamento menos monótono. Definitivamente estava tagarela como nunca estivera antes diante de seu interlocutor. Nunca a tivera visto assim. Exalava hormônios ferozes, ferozohormônios, daqueles que se o olfato não capta não passam despercebidos ao olhar. Contou de como preparou o jantar, à luz de velas, no aniversário do marido, que se tornara calado depois de casado. Tinha apagado todas as luzes da casa, e na escada que dava acesso ao pavimento superior, onde ficava o quarto do casal, colocara uma vela em cada degrau. Além das velas, colocara vários bilhetinhos, com declaração eterna de amor, colados nas paredes, vistos à medida que se subia de nível, em meio a rosas e mais rosas, essências, incensos, penumbra, desejo, tudo num ambiente extravagantemente romântico como nunca tivera feito antes pra ele, e “para ninguém”, repetia, posto que “ele era o seu primeiro e único homamor”. Era uma data especial. Inventada no prazer. Comemorada na satisfação. Satisfeita no resultado.
“Não sei o que seria de mim sem você”. “Você é a minha vida, a luz do meu caminho” e por aí ia se derramando em frases prontas, melosas, ternas e subalternas, mas que enterneceram o marido. Sabia que ele não gostava de comidas sofisticadas, de vinhos requintados, de champanhe, mas preparou tudo isso na penumbra, só iluminada por algumas velas postas sobre a mesa. Depois de servir todas essas comidas finas e bebidas fracas ela serviu então os pratos que ele gostava: Mocotó, feijoada, sarapatel, cerveja, pinga, mas foi logo lhe dizendo: “É só para provar, pois se você comer e beber tudo isso na hora do principal você apaga e eu fico na saudade”. E ela se preparou para o principal. Encheu a banheira de água aquecida, colocou rosas e sais aromatizantes. Usava uma camisola branca, transparente, que deixava mostrar todo o róseo dos seus mamilos, mais de 40 anos excitados, e uma calcinha preta, exígua, comme Il faut a ce moment la, fendida até a posição das oito horas, pois acima desse horário já não há nada mais interessante. Havia se depilado toda e apenas mostrava um bigodinho que ela oxigenou de louro sarará, combinando tão bem, supõe-se, com a sua tez branca. No banheiro havia duas taças de champanhe e um comprimido azul com os seguintes dizeres “Se necessário” Mas não foi necessário, pois nada podia ser mais azul do que o próprio clima. E rolou...

- Homem é assim. Gosta de ser paparicado. O meu, antes de casar, era falante, gostava de festas, mas depois que casou, que vieram os filhos, ficou calado, caseiro. Mas o importante é entendê-los. De vez em quando ele quer sair com os amigos e eu deixo. Não adianta ficar muito no pé, cheirando a camisa, olhando a cueca, estudando os hábitos. O importante é que não falte carinho em casa. Também não encho o saco dele com muitas conversas. Mulher conversa demais, como estou fazendo agora, percebe, não?. Eu gosto de ver filmes na televisão, ele gosta de futebol, de lutas, de jornal. Antes de deitar eu sempre faço massagens nele. Aprendi vários tipos de massagens e ele não dorme sem eu lhe fazer uma. Viciou, quer que eu cate cafuné toda noite. Mulher é assim. Gosta de se sentir dona do pedaço. Gosta de se sentir importante. Mulher gosta de dominar. Quer ter o homem nas mãos. Quer ter o controle remoto e ficar mudando de canal.

- Mulher é complicada, aduziu seu interlocutor. Casamento é complicado, não deixou de pontear também. Mas ele ficou olhando para ela, para aquela mulher que parecia tão desinteressante antes e que de repente falava como uma contista, como uma romancista. Ela, uma pessoa do povo, com capacidade de prender a atenção, de rematar, de mudar o tom de voz para gutural, de se fazer sexy, de extrapolar e de extra-pular. Não deixou de perceber, novamente, que seu rosto estava bastante vaso-dilatado, róseo, que seus olhos verdes-quasi-azuis brilhavam, que seus mamilos, supostamente róseos, apontavam sob a blusa, que ela tinha a magia do momento incorporado.

- Neide – disse ele – Você precisa escrever seus sentimentos, suas estórias, você tem talento – toda mulher tem – mas você tem em especial. Longe dele qualquer atração pelo que fosse minimamente carnal ali naquele momento.

- Sabe, ele disse para ela, quando eu estou na pior, no pior dos mundos, quando tudo não mais me serve, quando penso que vou desabar, implodir, que uma doença incurável está se apossando de mim, quando tudo parece ser dor, tormento, desesperança, eu me lembro que está me faltando sexo, atração, estripulia, e que sexo é o maior antidepressivo, analgésico, solucionante, rebite para o cansaço da alma. É por isso que a velhice é triste, embora a gente possa ser triste mesmo quando jovem.

Ele olhou então para o relógio analógico da sua sala, que ficava à sua frente, e já passava do meio dia. Não era exatamente um horário sexy. Ela percebeu que ele precisava dispensá-las e que ela tinha falado demais. Ela que era apenas uma acompanhante na consulta de uma irmã, que ouvia tudo e se admirava. Levantaram-se quase no mesmo instante, como se suas pressas fossem combinadas e ele se dirigiu em direção as duas para se despedir. Fez uma observação, porém.

- Vou beijar apenas sua irmã, você não, pois seu marido é ciumento, daqui a pouco ele vai sentir o meu cheiro – Ela tinha dito antes que o marido era muito ciumento.

- Que é isso. O que os olhos não vêem o coração não sente. Pode beijar, faço questão.

- Nhac, estalou um beijo naquele rosto cálido e carente. Vão com Deus. Adorei sua estória, tanto talento escondido!

- O senhor como sempre charmoso, bonitão, parece que o tempo não te derruba.

- Que os anjos-da-boca-mole digam Amém! Mas não é isso que meu espelho me diz...

Salvador, 24 de fevereiro de 2010.

Ruy Penalva

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Life is but nothing

Life is but nothing,
I'm alive.
The Earth keeps its round trip around the sun,
I'm the sum.
The universe expand,
I'm its sunny band.
If no thing is no think
I'm that uncanny ink!

Ruy Penalva

Dilma Empatando Com Serra - Parece Que Vai Ser Barbada Essa Eleição





Dilma está alcançando Serra rapidamente, mesmo sendo novata em política. Quando tiver o dobro de espaço na televisão e puder colar sua imagem à do Presidente Lula aí vai ser barbada. Dilma deverá ganhar fácil essa eleição no primeiro turno. Minha aposta é 55 a 44. Na comparação de Lula X FHC, FHC é o pálido fantasma do pai de Hamlet.Esse papo furado de equilíbrio fiscal, só papo, dos tucanos, não cola mais.

Brachymesia furcata pair (Dragonfly) making sex

Neonura sylvatica - Hagen - Damselfly - Making sex

Drangonflies (Libélulas) By Ruy Penalva

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Deu Branco No Samba - CD Breve

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Deu Branco No Samba - CD Breve

O Cerco A Cesar

O Cerco a Cesar



Estavam todos reunidos na sala, sentados à mesa, quando alguém disse:
- Passem o morto!
Já era quase meia noite. Sasha apenas apreciava a cena, embora não lhe desse muita importância, pois já estava com sono, com muito sono, e, além disso, já não era mais o primeiro falecido daquela noite adentrante, talvez o quarto ou quinto defunto que tinha sido passado de mão em mão naquela quiro-necropsia embaralhada. De repente, entra Cesar, que tinha justamente acabado de sair, esbaforido.
- A casa está cercada! A casa está cercada! repetiu. Mais de dez policiais, fortemente armados, estão cercando a casa. Querem me prender!
- O defunto agora é meu, disse um outro.
Todos estavam entretidos, jogando buraco, e ninguém deu a devida importância à aflição de Cesar, quando Sasha então gritou:
- Mas como pode! A casa está cercada de policiais querendo prender Cesar e vocês ficam aí jogando baralho sem dar a mínima!
- Um adulto, que estava à mesa jogando, olhou para Sasha e girou o indicador em círculo, lateralmente à têmpora direita, indicando que Cesar estava tan-tan, abilolado.
Como tan-tan? se perguntou Sasha. Eu já vi vários loucos nas ruas e nenhum tinha medo de polícia, refletiu. Ao contrário, a polícia é que tinha medo deles, se assegurou.
- Ninguém vai tomar uma providência? perguntou Sasha.
- Calma Sasha! Calma!
- Senta aí Cesar, que daqui a pouco os policiais vão embora.
Mas Sasha não se deu por rogado.
- Se ninguém toma uma providência eu mesmo vou tomar.
Foi ao seu quarto, pegou seu badogue, uma faca, um revolver calibre 32, da Estrela, com espoletas em rolo, que a cada disparo soltava fumaça, fazia barulho e recarregava. Pegou uma pistola 765, importada, com carregamento pelo cabo com pente de balas de plástico, e até uma metralhadora giratória, luminosa e sonora, de grande efeito visual. Armou-se todo e seguiu em direção à porta.
- Não saia, Sasha! Não saia! disse Cesar. Eles podem te ferir.
- Primo, eu só tenho medo da kriptonita, porque ela me enfraquece, o resto eu destruo com minhas armas. Vou dar uma lição neles e nem vou precisar tomar espinafre.
- Saaasha, olha a violência, gritou uma mulher da mesa. Use o diálogo, filho.
- Eles sairão por bem ou por mal, assegurou Sasha abrindo a porta.
- Êi, seus covardes! Vocês querem pegar meu primo por quê? Por que não pegam a mim? E girou a metralhadora, que espalhava sons e luzes enquanto fulminava os sitiantes. Tá-tá, tá-tá-tá-tá. Tá-tá, tá-tá-tá-tá. Tá-tá, tá-tá-tá-tá. Tá-tá, tá-tá-tá-tá.
Quando terminou o serviço, Sasha entrou em casa e disse para o primo.
- Primo, quem não correu morreu. O campo tá limpo. Qualquer coisa é só gritar Shazan que eu apareço. Toma aqui esse amuleto.
Cesar saiu, olhou ao redor da casa, nada viu de vivo, voltou e disse para Sasha.
- Valeu, Sasha! Mas precisamos tirar esse monte de cadáveres do passeio senão vai ficar a prova do crime.
- Fique calmo, primo. Daqui a pouco os corvos da meia-noite passarão e não deixarão um só deles aí na porta. Pode ir tranqüilo.
- Você está bem, filho? Perguntou a mãe de Sasha.
- Eu estou, mas temo que os policiais lá de fora não estejam.
- Você matou todos?
- Uns cinco conseguiram fugir, mas creio que todos ficaram baleados.
- Quantos eram no total?
- Matei cinco, se cinco fugiram, era dez o total.
- Uhm! Na aritmética você está bom, já sabe contar os mortos.
De repente alguém apita seu apito estridente e bate na porta. Era seu Fulgêncio, o guarda noturno.
- Boa noite, dona Amerina!
- Boa noite, seu Fulgêncio. Alguma novidade?
- Gostei, viu! Gostei da atitude do Sasha, dona Amerina. Menino de coragem esse seu guri. Escorraçou mais dez policiais aí na porta. Pegou a metralhadora dele e saiu atirando e gritando. Um fuzuê! Uns cinco policiais se jogaram no chão e outros cinco fugiram em debandada. Quando Sasha entrou em casa, os cinco que se deitaram no chão se levantaram e saíram correndo, pareciam almas penadas. Gritavam: “É o Diabo!” “É o Diabo!” O que tem de valente esse menino, dona Amerina, tem o primo de covarde, de frouxo!
- Seu Fulgêncio, o que é que o senhor está me contando?
- É isso aí que a senhora acaba de ouvir, dona Amerina. Todos fugiram!
- O senhor está me dizendo que todos fugiram?
- Todos fugiram! Repetiu seu Fulgêncio.
- Todos fugiram! Apenas os mortos ficaram, pois mortos não andam! corrigiu Sasha.
Os que estavam à mesa, jogando buraco, gritaram em coro:
- Todos fugiram! Passem o morto! Todos fugiram! Canastra Real.
Prezados leitores, vai, me escutem, digo eu agora:
Todos fugiram! Acreditem se quiser. O limite entre o delírio, a alucinação, e a realidade observável, nada mais é que a metralhadora giratória do Sasha.
Todos fugiram e o cerco a Cesar foi derrubado!
Ave! Cesar. Ave! Sasha! Ave! Metralhadora.
Repitam comigo, em coro: Todos fugiram!
- Todos fugiram!


Lauro de Freitas, 28 de março de 2010.

Ruy Penalva

Post-Scriptum: Todos fugiram! Pensem nisso.

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I Will Survive (A Fã)

I Will Survive (A Fã)


Fã em português vem do inglês fan, que é a abreviação de fanatic, fanático. Bem que poderia ser derivado de fan, ventilador em inglês, aquele que espalha, que sopra o ídolo para longe, para o sucesso.
S., que era secretária executiva, dominava razoavelmente o inglês, o Windows, inclusive o Seven, e pacote Office (Word, Excel e Power Point), além de saber surfar como ninguém pelos sites da internet, principalmente os de relacionamento. Tinha perfil no Orkut, no Facebook, no MySpace, no Twitter, no Namoro.com, no Poderosa.com e em mais vários outros sites de relacionamento e redes sociais. Ela, inclusive, pensava que o nome Orkut tinha a ver com cultura, pois Cult significa cultura. O Uol ao criar o Uolcult também pensou, mas depois soube-se que Orkut era o sobrenome de uma bicha turca que trabalhava no Google e que criou o programa. Coisa de bicha. Vivia na blogosfera, na estratosfera, na exosfera. Era do fã clube de Ivete, de Claudinha, de Bell, do Parangolé, de Xitãozinho, de Lio e Leo, de Lau e Leu, de Mau e Meu e de mais uma porrada de artistas. Sabia dançar todas as danças, desde a dança da galinha, passando pelo rebolation, até aquela dança ridícula do Bocheca, em que ele fica assoando o nariz. Recebia mensagens, mandava mensagens, era uma pessoa popular, espaçosa, insinuante. Nunca chegava a sua casa de visita para não ficar uns dois dias. Bastava você ligar seu computar que logo o nome S. popava aqui, popava ali com o aviso: S. está online. S. entrou agora. Vivia online. Just in time. No Google, no Bing, no Bang era a mais popular.
S. não era propriamente bonita, mas dizer que era feia é um pecado. Certo que aqui e ali tinha colocado botox, nos lábios, por exemplo. Silicone nos seios e várias outras cirurgias agendadas e não feitas tais como: Silicone nas nádegas, silicone nas batatas, aumentar o volume dos seios ainda mais, ninfoplastia, reforma geral na dentição, com colocação de chapinhas iguais as dos artistas; depilação definitiva, colágeno, fio de ouro etc., etc., etc. Sonhava em aparecer na Paparazzo, na Vip, ser clicada por Bob Wolfenson para a Playboy. Afinal, se até a mulher de Carlos Alberto tinha posado para a Playboy no passado, quando não havia Photoshop, quanto mais ela que era linda, siliconada, poderosa!
O seu miniblog no Twitter era concorrido. Sempre havia um post de algum artista dizendo algo, provavelmente da assessoria deles, para ela.
S. não passava por um espelho, ou superfície espelhada, sem olhar o traseiro, dar uma empinada e corrigir a postura. Fazia Pilates, RPG, drenagem linfática, academia, Hata Yoga, Hata Piroca, meditação e outros trecos. Tomava uma porção de pílulas antioxidantes e seu café da manhã tinha tantos cereais que mais parecia uma pasta, um consomé de café. Tudo que ensinavam a ela para rejuvenescer ou para parar a velhice ela usava: Esperma de zangão, mandioca cevada, casca de maçã, pimenta vermelha, vitamina C da Calábria, câmara hiperbárica, eletroestimulação, tudo. Tinha quase 40 anos, mas já freqüentava o Dr. Cansado, geriatra famoso em Salvador. Diziam até que a Hebe vinha a Salvador fazer consulta com ele e usar injeções de formol cristalizado em nanopartículas, além da Ana Maria Braga, que era sua cliente. Sempre que passava pelo enorme espelho do seu banheiro mandava um beijo e o espelho lhe dizia: Poderosa!
Mas um dia, meus senhorizinhos, meus senhorezinhos da silva, S. resolveu dar uma festa e convidar todos os artistas famosos via RSP (Répondez s’il vous plaît) e o pior, melhor dizendo, o melhor, é que uma porção de artistas confirmou presença: Ivete, Claudinha, Bell, Leo do Parangolé, Xitãozinho, sem Chororó, Ana Maria Braga, Viviane, Mirela, Paola, Mau sem Meu, Thatiana Pagung, Graciane Barbosa, sem Belo - o pau prometia comer com a Viviane - e mais vários outros, que por falta de importância ou de mídia eu não vou citar aqui. Todo mundo que pagava calcinha, peitinho, bundinha tinha sido convidado.
Bom, finalmente chegou o dia da festa e tudo estava impecável, porém, teve um porém, só vieram convidados reles, nenhum famoso chegou, embora alguns tenham postado no Twitter que “Por motivo de força maior” não poderia comparecer. O certo é que a tal da “Força maior” nesse dia resolveu atacar todo convidado famoso, numa epidemia como já mais vista.
Deu a hora de acabar a festa e S. estava arrasada. Afinal, como sairia nos jornais, nas colunas, nos blogs a notícias de sua festa. “Festa de S. foi um fracasso, só tinha pé de chinelo”. “Festa de S. foi um mico”. “S. pagou festinha”.
Quando o último convidado saiu S. foi para o quarto, entrou no banheiro, olhou para o espelho, se achou linda e num féerie jamais visto S. foi tomada de um spell, de uma folie a deux (ela e o espelho) como jamais tivera antes e viera ter depois e começou a cantar:
- Espelho meu, espelho meu, me diga, me diga, por favor, existe alguém mais bonita, mais bonita, mais bonita do que eu? No ritmo de I will survive. E o espelho respondia.
- Não existe não, não existe não, não existe nãoooooooooooooooo! E ela prosseguia.
-Oh no, not I! I will survive! I will survive! Oh, as long as I know how to love I will survive! I will survive! E prosseguia nesse refrão sempre com o espelho repetindo: Não existe não, não existe não, não existe nãooooooooooooooooo! E de vez em quando ela entrava e saía do Hotel Califórnia cantando.
-Welcome to the Hotel California such a lovely place… Sem esquecer La Isla Bonita de Madonna “Last night I dreamt of San Pedro…”.
S. prosseguia cantando, seu espelho repicando, e ela via passar no espelho todos os seus convidados que não tinham vindo. Passou a Mirela e disse: “Nega, tu tá mais botocada do que eu!” A Graciane falou: “Neguinha, você tá tomando mais bomba do que eu!” O Louro José apareceu: “ Pô! Tu tá mais poderosa do que a Ana Maria!” A Ivete emendou: “Traveca, eu não sabia que tu cantava isso tudo!” “Despeito”, ela respondeu. A Ângela Bismarck não deixou de notar: “Nega, tu fez mais plástica do que eu, parabéns!” ”Ruy Penalva, de gaiato, já que não era convidado, emendou: “Ana Hickmann ficou no chinelo. “Sai pra lá, tu nem foi convidado”, ela replicou. E os seios cresciam. A bunda crescia. Os lábios inchavam. As batatas engordavam. Pagou peitinho. Pagou calcinha. Pagou bundinha. Pagou cuzinho. Não ficou devendo nada, pagou tudo. E seu poodle latia, gritava, não estava entendo nada quando, de repente, o telefone tocou e ela disse latindo para ele:
- Vá atender Brad que é a Ivete, diga a ela que estou num show.
E o telefone tocou de novo e ela disse para o poodle:
- Brad, atenda que deve ser a Claudinha, diga que estou numa coletiva.
E o telefone tocou a terceira vez e ela disse para o poodle:
- Vá lá Brad, é o Jô, diga que não posso ir no dia combinado.
Enfim chegou o cansaço, o sono, a lassidão e S. foi dormir, pegou num sono profundo. Sonhou muito, tanto que até urinou na cama. Seu espelho cansado refletiu “Ufa! Outra dessa eu parto ao meio”. S. acordou ao meio dia do dia seguinte. Olhou o despertador na cabeceira e viu que estava atrasada para ir ao trabalho. Levantou-se, meio tonta pegou uma neosaldina para tomar e ligou a secretária eletrônica que piscava em vermelho avisando um recado que tinha sido deixado. O recado dizia assim: Dona Sahmantha, favor passar no departamento de pessoal. Ela ouviu o recado, entrou no banheiro, olhou no espelho, que ainda suava, e disse: I will survive. O espelho trincou bem no meio de forma que ela podia ver que ela tinha duas faces, ambas inchadas. Nesse momento, pela seteira da parede, entrou uma libélula do gênero Perithemis lais. Uma libélula dourada, que pousou bem no seu ombro. Era uma Perithemis lais macho, daí ser toda dourada. Ela olhou a libélula, olhou para o espelho e falou perguntando: Não lhe disse nego? I will survive! A Perithemis voou, saiu pela seteira e ganhou liberdade. Nuvens grossas de chumbo se formaram no céu e caiu uma enorme chuva que trouxe o cheiro de um chão há muito tempo não molhado. Não lavou-lhe a alma, mas lavou-lhe a calçada.

Lauro de Freitas, 04 de março de 2010.

Ruy Penalva
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Dona Emília

Dona Emília

Parte l - Convocação dispensável (leitura também) posto que jamais faltariam.
Chamem todos:
Chamem os irmãos Valtex, Valney e Valmick, a burralda, o cachorro vacionado, Bobó e o monstrinho que ruava, Elói zamino napurá.
Chamem Chico Naiana e a Ilustre Casa de Ramires, Verbiage e sua parolice, Tom, Bira Peixe, o Departamento de Investigação da Vida Alheia, Bell e quem mais puder chegar.
Chamem Filipeta e sua filha Belo, cujo siriáco tinha vitamina, conforme dizia a canção: É Belo, Belo, é chique, chique, o siriáco dessa menina, como é gostoso, tem vitamina... Chamem.
Chamem Alzenita, Causa nos Peitos, Edson banguelo, Pacatinho, Onze Anos, a cobra de barba e bigode, Biú Isabé, podem mandar chamar.
Chamem todos os punheteiros do Amparo, que afogavam o ganso no chão de barro, pra tirar sarro e poder se aliviar. É de cocó é de conveniência. Assim que é bom que não dá doença.
Chamem a prostituta Zoió, que aliviava os meninos, oh! Em múltiplos de dez, mó, por qualquer merréis, só. Era entrar pra gozar.
Chamem o velho Paulo e seu filho desmarcado, que tinha um cacete tão avantajado, que era difícil mulher pra testar.
Chamem Cabocla, Mucinha, Adriano, o doutor Pasta Pura, todos que queiram se aprochegar.
Chamem Paturi, Catita, Tatu, Guru-Guru, todos os bêbados e bichas que puderem e quiserem chegar.
Chamem o médico que atestou que o cabaço de Gladys foi quebrado numa queda, seu Barroso, dona Lia, venham todos, é folia, hoje eu lhes posso contar.
Chamem o goleiro Barbosa, anêmico de tanto bater punheta, pois cada bronha batida eram três gotas perdidas. Chamem-no.
Chamem o Papa-Figo, o Capelão alemão com sua Jeepa e os caminhões de bocetas que eram despejadas todos os dias no Rio das Tripas e apareciam boiadas e abocetadas, afogadas ao mar.
Chamem o Dr. Borô, que muita uretra com nitrato estenosou, e de Salvador, esse é outro sô! chamem de anjos o maior tirador, pois meu amor, hoje eu não vou abortar.
Chamem Jorge Gaiola, hermeneuticamente falando, que criava versos brechtianos, e emocionadamente recitando-os ia o Partidão enganar.
Chamem Paulo e sua namorada pingueluda, que não lhe mostrava a beiçuda, pra ele não se decepcionar.
Chamem o Pedrão, que nos bailes do Baiano, entrava nas pontas dos pés pisando, pra não se ferir nos cacos de cabaço, aqui e ali perambulando, verdadeiros perigos a se contornar.
Chamem Rato, Manolo, Dona Bárbara, seu criatório de pulgas, e aquela sopa rala, inodora, insossa, água pura, que não dava nem pra encarar.
Chamem Vadinha e seus corrimentos, Celso e os seus lamentos; se não vier, viu Vadinha! eu também vou espalhar.
Chamem a Detinha e seu marido Odilon, bexiguento, que quando dava a noite e calmava o vento, só queria no seu franzido fofar. Podem chamar.
Chamem a todos que não me esqueci, mas que por falta de espaço aqui, somente por isso aí, digo-lhes, resolvi, nesse momento, não chamar.

Parte II – Dona Emília – Para se ler

- São os comunistas Tézinho! São os comunistas! Estão no telhado. Vão invadir a casa, como faziam quando eram associados com Lampião. O monstro assobiador também taí.
- Calma, vó Emília. Calma!
- Chame Cibola Tézinho, chame Cibola.
- Vou chamar, vó. Vou chamar.
E Tézinho pegava um telefone mudo, sem ligação nenhuma à rede, daqueles imensos, preto, de baquelite, só visto hoje em réplicas ou casa de antiguidades.
- Alô Cebolinha! aqui é o Tel.
- Diga aí, Tézinho. Tudo bem?
- Não Cebola, nada bem. Os comunistas estão no telhado querendo invadir a casa e parece que hoje eles trouxeram o monstro assoviador. Vó Emília está assustada.
- Tudo fechado, Tézinho! Tudo fechado! Trancas nas portas. Liga o rádio alto para eles saberem que tem gente. Ligue para o delegado Pimenta e relate o fato.
- Que foi que Cibola disse, Tézinho?
- Tudo sob controle minha avó. Pediu para fechar tudo, apertar as trancas, ligar o rádio bem alto e chamar o delegado Pimenta.
- Eles são é covardes, Tézinho. Só aparecem de noite, quando não tem ninguém. No interior eles matavam e comiam as criancinhas e todo lugar que chegavam destruíam tudo. Unha e carne com Lampião.
- Delegado Pimenta?
- Quem fala?
- Sou o Tézinho, filho do Cebolinha, ele pediu que eu ligasse para o senhor para o senhor mandar prender os comunistas que estão aqui em cima do telhado.
- Esses comunistas não se emendam! Estou indo pra aí, Tézinho.
- Delegado, delegado, não desligue, ouça, ouça, traga também uma jaula para prender o monstro assoviador.
- Que tamanho que você calcula que esse monstro tem?
- Uns dois metros, delegado, e é peludo.
- Fique tranqüilo, Tézinho. Estarei chegando aí daqui a pouco.
- Tá vendo! Tézinho. Bastou Cibola tomar umas providências que eles já estão indo embora. Até o assobiador parou de assobiar. Eles sabem com quem estão lidando, Tézinho.
E vó Emília dormia, pegava no sono. Tézinho então guardava o aparelho em que falava consigo mesmo e ia dormir. Durante o dia, nem os comunistas nem o monstro assoviador apareciam. Eram covardes. Só a noite podia os trazer de volta. E essa rotina se repetia com freqüência, embora nem toda noite.
- Tá ouvindo, tá ouvindo, Tézinho?
- O quê, minha vó?
- Os comunistas de novo!
- Minha vó, hoje estou achando que são uns gatos no telhado.
- Comunista tem arte, Tézinho. Eles aparecem de gato, de rato, de tudo quanto é bicho. Ligue para Cibola.
- Tézinho, acho que eles hoje trouxeram a volante inteira. Vão invadir. Vão invadir. Ligue para Cibola.
E Tézinho corria pegar o telefone que deixava embrulhado no quarto e começava encenar todo ritual novamente.
- Cebolinha?
- Quem fala?
- É Tel, Cebola. É Tel.
- Tudo bem Tézinho?
- Não Cebolinha! Os comuniiistas novamente, e hoje eles trouxeram a volante inteira. Minha vó Emília está assustada.
- Ligue para o delegado Pimenta, Tézinho. Hoje a gente prende esse bando e enforca.
- Ok, Cebola, vou ligar.
- Delegado Pimenta?
- Que fala?
- É o Tézinho, filho do Cebolinha?
- Diga aí, Tézinho. Alguma anormalidade na área?
- Os comunistas, delegado. Os comunistas?
- De novo, Tézinho?
- De novo, delegado. Eles perseguem minha vó desde os tempos de Lampião.
- Aquele lá tá morto, Tézinho. Esses aí precisamos matar. Estou indo praí já.
- Combinado delegado. Vó Emília agradece.
- Que foi que o delegado disse, Tézinho?
- Que tá vindo pra cá, vó. Ele que ver se pega os comunistas hoje de surpresa e enforca tudo.
- Fecha as portas e as janelas, Tézinho. Liga o rádio.
- Exato, minha vó. E isso que eu já vou fazer.
De repente alguém bate à porta. Tézinho vai atender.
- Não abra, Tézinho. Não abra. São os comunistas! São os comunistas!
- Calma, vó! Calma! Pode ser o delegado Pimenta!
- Valtex, Valtex!
- Quem é?
- É o Bruno, Valtex.
- Que houve cara?
- A polícia, cara! A polícia prendeu um bocado de companheiros, fechou um bocado de aparelhos, está de campana na frente minha casa, eu preciso me esconder por uns quinze dias aqui com você.
E Valtex abriu a porta, deixou o Bruno entrar, sentaram no sofá e começaram a conversar baixinho. De repente chega vó Emília.
- Quem é esse, Tézinho?
- É o delegado Pimenta, minha vó. Veio passar quinze dias conosco para ver ser prende os comunistas que estão tentando invadir nossa casa.
- Cibola tá sabendo disso?
- Tá. Foi ele quem mandou, vó Emília.
- Muito prazer delegado! Agora posso dormir tranqüila! Que bom que é ter um genro como Cibola...




Lauro de Freitas, 22 de março de 2010.

Ruy Penalva
www.myspace.com/ruypenalvamusic