Eu Quero A Menina

Eu Quero A Menina (Ruy Penalva) Só não viu foi quem não quis O perdão tergiversar Quando aquele monstro feiticeiro Tomou conta do lugar Chegou, pediu, minto, exigiu A mais linda virgem pra levar A mais atraente A mais comovente A mais sempre a mais dentre as mais Pegou a menina Levou a menina Roubou a menina, sumiu Ninguém soube dela Ninguém mais revela Ninguém disse ao menos um piu! Já depois muito depois Bem no céu apareceu Um grande cometa Talvez um planeta Eu sei uma estrela nasceu Eu quero a menina Me tragam a menina Eu quero a menina porque No fim novela Só eu gosto dela Só eu vou poder desfazer Tamanho encanto Dum forte quebrando Que um dia pôs tudo a perder Um grande momento Meu contentamento De um dia casar com você

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domingo, 4 de abril de 2010

O Cerco A Cesar

O Cerco a Cesar



Estavam todos reunidos na sala, sentados à mesa, quando alguém disse:
- Passem o morto!
Já era quase meia noite. Sasha apenas apreciava a cena, embora não lhe desse muita importância, pois já estava com sono, com muito sono, e, além disso, já não era mais o primeiro falecido daquela noite adentrante, talvez o quarto ou quinto defunto que tinha sido passado de mão em mão naquela quiro-necropsia embaralhada. De repente, entra Cesar, que tinha justamente acabado de sair, esbaforido.
- A casa está cercada! A casa está cercada! repetiu. Mais de dez policiais, fortemente armados, estão cercando a casa. Querem me prender!
- O defunto agora é meu, disse um outro.
Todos estavam entretidos, jogando buraco, e ninguém deu a devida importância à aflição de Cesar, quando Sasha então gritou:
- Mas como pode! A casa está cercada de policiais querendo prender Cesar e vocês ficam aí jogando baralho sem dar a mínima!
- Um adulto, que estava à mesa jogando, olhou para Sasha e girou o indicador em círculo, lateralmente à têmpora direita, indicando que Cesar estava tan-tan, abilolado.
Como tan-tan? se perguntou Sasha. Eu já vi vários loucos nas ruas e nenhum tinha medo de polícia, refletiu. Ao contrário, a polícia é que tinha medo deles, se assegurou.
- Ninguém vai tomar uma providência? perguntou Sasha.
- Calma Sasha! Calma!
- Senta aí Cesar, que daqui a pouco os policiais vão embora.
Mas Sasha não se deu por rogado.
- Se ninguém toma uma providência eu mesmo vou tomar.
Foi ao seu quarto, pegou seu badogue, uma faca, um revolver calibre 32, da Estrela, com espoletas em rolo, que a cada disparo soltava fumaça, fazia barulho e recarregava. Pegou uma pistola 765, importada, com carregamento pelo cabo com pente de balas de plástico, e até uma metralhadora giratória, luminosa e sonora, de grande efeito visual. Armou-se todo e seguiu em direção à porta.
- Não saia, Sasha! Não saia! disse Cesar. Eles podem te ferir.
- Primo, eu só tenho medo da kriptonita, porque ela me enfraquece, o resto eu destruo com minhas armas. Vou dar uma lição neles e nem vou precisar tomar espinafre.
- Saaasha, olha a violência, gritou uma mulher da mesa. Use o diálogo, filho.
- Eles sairão por bem ou por mal, assegurou Sasha abrindo a porta.
- Êi, seus covardes! Vocês querem pegar meu primo por quê? Por que não pegam a mim? E girou a metralhadora, que espalhava sons e luzes enquanto fulminava os sitiantes. Tá-tá, tá-tá-tá-tá. Tá-tá, tá-tá-tá-tá. Tá-tá, tá-tá-tá-tá. Tá-tá, tá-tá-tá-tá.
Quando terminou o serviço, Sasha entrou em casa e disse para o primo.
- Primo, quem não correu morreu. O campo tá limpo. Qualquer coisa é só gritar Shazan que eu apareço. Toma aqui esse amuleto.
Cesar saiu, olhou ao redor da casa, nada viu de vivo, voltou e disse para Sasha.
- Valeu, Sasha! Mas precisamos tirar esse monte de cadáveres do passeio senão vai ficar a prova do crime.
- Fique calmo, primo. Daqui a pouco os corvos da meia-noite passarão e não deixarão um só deles aí na porta. Pode ir tranqüilo.
- Você está bem, filho? Perguntou a mãe de Sasha.
- Eu estou, mas temo que os policiais lá de fora não estejam.
- Você matou todos?
- Uns cinco conseguiram fugir, mas creio que todos ficaram baleados.
- Quantos eram no total?
- Matei cinco, se cinco fugiram, era dez o total.
- Uhm! Na aritmética você está bom, já sabe contar os mortos.
De repente alguém apita seu apito estridente e bate na porta. Era seu Fulgêncio, o guarda noturno.
- Boa noite, dona Amerina!
- Boa noite, seu Fulgêncio. Alguma novidade?
- Gostei, viu! Gostei da atitude do Sasha, dona Amerina. Menino de coragem esse seu guri. Escorraçou mais dez policiais aí na porta. Pegou a metralhadora dele e saiu atirando e gritando. Um fuzuê! Uns cinco policiais se jogaram no chão e outros cinco fugiram em debandada. Quando Sasha entrou em casa, os cinco que se deitaram no chão se levantaram e saíram correndo, pareciam almas penadas. Gritavam: “É o Diabo!” “É o Diabo!” O que tem de valente esse menino, dona Amerina, tem o primo de covarde, de frouxo!
- Seu Fulgêncio, o que é que o senhor está me contando?
- É isso aí que a senhora acaba de ouvir, dona Amerina. Todos fugiram!
- O senhor está me dizendo que todos fugiram?
- Todos fugiram! Repetiu seu Fulgêncio.
- Todos fugiram! Apenas os mortos ficaram, pois mortos não andam! corrigiu Sasha.
Os que estavam à mesa, jogando buraco, gritaram em coro:
- Todos fugiram! Passem o morto! Todos fugiram! Canastra Real.
Prezados leitores, vai, me escutem, digo eu agora:
Todos fugiram! Acreditem se quiser. O limite entre o delírio, a alucinação, e a realidade observável, nada mais é que a metralhadora giratória do Sasha.
Todos fugiram e o cerco a Cesar foi derrubado!
Ave! Cesar. Ave! Sasha! Ave! Metralhadora.
Repitam comigo, em coro: Todos fugiram!
- Todos fugiram!


Lauro de Freitas, 28 de março de 2010.

Ruy Penalva

Post-Scriptum: Todos fugiram! Pensem nisso.

www.myspace.com/ruypenalvamusic

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