Eu Quero A Menina

Eu Quero A Menina (Ruy Penalva) Só não viu foi quem não quis O perdão tergiversar Quando aquele monstro feiticeiro Tomou conta do lugar Chegou, pediu, minto, exigiu A mais linda virgem pra levar A mais atraente A mais comovente A mais sempre a mais dentre as mais Pegou a menina Levou a menina Roubou a menina, sumiu Ninguém soube dela Ninguém mais revela Ninguém disse ao menos um piu! Já depois muito depois Bem no céu apareceu Um grande cometa Talvez um planeta Eu sei uma estrela nasceu Eu quero a menina Me tragam a menina Eu quero a menina porque No fim novela Só eu gosto dela Só eu vou poder desfazer Tamanho encanto Dum forte quebrando Que um dia pôs tudo a perder Um grande momento Meu contentamento De um dia casar com você

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domingo, 4 de abril de 2010

I Will Survive (A Fã)

I Will Survive (A Fã)


Fã em português vem do inglês fan, que é a abreviação de fanatic, fanático. Bem que poderia ser derivado de fan, ventilador em inglês, aquele que espalha, que sopra o ídolo para longe, para o sucesso.
S., que era secretária executiva, dominava razoavelmente o inglês, o Windows, inclusive o Seven, e pacote Office (Word, Excel e Power Point), além de saber surfar como ninguém pelos sites da internet, principalmente os de relacionamento. Tinha perfil no Orkut, no Facebook, no MySpace, no Twitter, no Namoro.com, no Poderosa.com e em mais vários outros sites de relacionamento e redes sociais. Ela, inclusive, pensava que o nome Orkut tinha a ver com cultura, pois Cult significa cultura. O Uol ao criar o Uolcult também pensou, mas depois soube-se que Orkut era o sobrenome de uma bicha turca que trabalhava no Google e que criou o programa. Coisa de bicha. Vivia na blogosfera, na estratosfera, na exosfera. Era do fã clube de Ivete, de Claudinha, de Bell, do Parangolé, de Xitãozinho, de Lio e Leo, de Lau e Leu, de Mau e Meu e de mais uma porrada de artistas. Sabia dançar todas as danças, desde a dança da galinha, passando pelo rebolation, até aquela dança ridícula do Bocheca, em que ele fica assoando o nariz. Recebia mensagens, mandava mensagens, era uma pessoa popular, espaçosa, insinuante. Nunca chegava a sua casa de visita para não ficar uns dois dias. Bastava você ligar seu computar que logo o nome S. popava aqui, popava ali com o aviso: S. está online. S. entrou agora. Vivia online. Just in time. No Google, no Bing, no Bang era a mais popular.
S. não era propriamente bonita, mas dizer que era feia é um pecado. Certo que aqui e ali tinha colocado botox, nos lábios, por exemplo. Silicone nos seios e várias outras cirurgias agendadas e não feitas tais como: Silicone nas nádegas, silicone nas batatas, aumentar o volume dos seios ainda mais, ninfoplastia, reforma geral na dentição, com colocação de chapinhas iguais as dos artistas; depilação definitiva, colágeno, fio de ouro etc., etc., etc. Sonhava em aparecer na Paparazzo, na Vip, ser clicada por Bob Wolfenson para a Playboy. Afinal, se até a mulher de Carlos Alberto tinha posado para a Playboy no passado, quando não havia Photoshop, quanto mais ela que era linda, siliconada, poderosa!
O seu miniblog no Twitter era concorrido. Sempre havia um post de algum artista dizendo algo, provavelmente da assessoria deles, para ela.
S. não passava por um espelho, ou superfície espelhada, sem olhar o traseiro, dar uma empinada e corrigir a postura. Fazia Pilates, RPG, drenagem linfática, academia, Hata Yoga, Hata Piroca, meditação e outros trecos. Tomava uma porção de pílulas antioxidantes e seu café da manhã tinha tantos cereais que mais parecia uma pasta, um consomé de café. Tudo que ensinavam a ela para rejuvenescer ou para parar a velhice ela usava: Esperma de zangão, mandioca cevada, casca de maçã, pimenta vermelha, vitamina C da Calábria, câmara hiperbárica, eletroestimulação, tudo. Tinha quase 40 anos, mas já freqüentava o Dr. Cansado, geriatra famoso em Salvador. Diziam até que a Hebe vinha a Salvador fazer consulta com ele e usar injeções de formol cristalizado em nanopartículas, além da Ana Maria Braga, que era sua cliente. Sempre que passava pelo enorme espelho do seu banheiro mandava um beijo e o espelho lhe dizia: Poderosa!
Mas um dia, meus senhorizinhos, meus senhorezinhos da silva, S. resolveu dar uma festa e convidar todos os artistas famosos via RSP (Répondez s’il vous plaît) e o pior, melhor dizendo, o melhor, é que uma porção de artistas confirmou presença: Ivete, Claudinha, Bell, Leo do Parangolé, Xitãozinho, sem Chororó, Ana Maria Braga, Viviane, Mirela, Paola, Mau sem Meu, Thatiana Pagung, Graciane Barbosa, sem Belo - o pau prometia comer com a Viviane - e mais vários outros, que por falta de importância ou de mídia eu não vou citar aqui. Todo mundo que pagava calcinha, peitinho, bundinha tinha sido convidado.
Bom, finalmente chegou o dia da festa e tudo estava impecável, porém, teve um porém, só vieram convidados reles, nenhum famoso chegou, embora alguns tenham postado no Twitter que “Por motivo de força maior” não poderia comparecer. O certo é que a tal da “Força maior” nesse dia resolveu atacar todo convidado famoso, numa epidemia como já mais vista.
Deu a hora de acabar a festa e S. estava arrasada. Afinal, como sairia nos jornais, nas colunas, nos blogs a notícias de sua festa. “Festa de S. foi um fracasso, só tinha pé de chinelo”. “Festa de S. foi um mico”. “S. pagou festinha”.
Quando o último convidado saiu S. foi para o quarto, entrou no banheiro, olhou para o espelho, se achou linda e num féerie jamais visto S. foi tomada de um spell, de uma folie a deux (ela e o espelho) como jamais tivera antes e viera ter depois e começou a cantar:
- Espelho meu, espelho meu, me diga, me diga, por favor, existe alguém mais bonita, mais bonita, mais bonita do que eu? No ritmo de I will survive. E o espelho respondia.
- Não existe não, não existe não, não existe nãoooooooooooooooo! E ela prosseguia.
-Oh no, not I! I will survive! I will survive! Oh, as long as I know how to love I will survive! I will survive! E prosseguia nesse refrão sempre com o espelho repetindo: Não existe não, não existe não, não existe nãooooooooooooooooo! E de vez em quando ela entrava e saía do Hotel Califórnia cantando.
-Welcome to the Hotel California such a lovely place… Sem esquecer La Isla Bonita de Madonna “Last night I dreamt of San Pedro…”.
S. prosseguia cantando, seu espelho repicando, e ela via passar no espelho todos os seus convidados que não tinham vindo. Passou a Mirela e disse: “Nega, tu tá mais botocada do que eu!” A Graciane falou: “Neguinha, você tá tomando mais bomba do que eu!” O Louro José apareceu: “ Pô! Tu tá mais poderosa do que a Ana Maria!” A Ivete emendou: “Traveca, eu não sabia que tu cantava isso tudo!” “Despeito”, ela respondeu. A Ângela Bismarck não deixou de notar: “Nega, tu fez mais plástica do que eu, parabéns!” ”Ruy Penalva, de gaiato, já que não era convidado, emendou: “Ana Hickmann ficou no chinelo. “Sai pra lá, tu nem foi convidado”, ela replicou. E os seios cresciam. A bunda crescia. Os lábios inchavam. As batatas engordavam. Pagou peitinho. Pagou calcinha. Pagou bundinha. Pagou cuzinho. Não ficou devendo nada, pagou tudo. E seu poodle latia, gritava, não estava entendo nada quando, de repente, o telefone tocou e ela disse latindo para ele:
- Vá atender Brad que é a Ivete, diga a ela que estou num show.
E o telefone tocou de novo e ela disse para o poodle:
- Brad, atenda que deve ser a Claudinha, diga que estou numa coletiva.
E o telefone tocou a terceira vez e ela disse para o poodle:
- Vá lá Brad, é o Jô, diga que não posso ir no dia combinado.
Enfim chegou o cansaço, o sono, a lassidão e S. foi dormir, pegou num sono profundo. Sonhou muito, tanto que até urinou na cama. Seu espelho cansado refletiu “Ufa! Outra dessa eu parto ao meio”. S. acordou ao meio dia do dia seguinte. Olhou o despertador na cabeceira e viu que estava atrasada para ir ao trabalho. Levantou-se, meio tonta pegou uma neosaldina para tomar e ligou a secretária eletrônica que piscava em vermelho avisando um recado que tinha sido deixado. O recado dizia assim: Dona Sahmantha, favor passar no departamento de pessoal. Ela ouviu o recado, entrou no banheiro, olhou no espelho, que ainda suava, e disse: I will survive. O espelho trincou bem no meio de forma que ela podia ver que ela tinha duas faces, ambas inchadas. Nesse momento, pela seteira da parede, entrou uma libélula do gênero Perithemis lais. Uma libélula dourada, que pousou bem no seu ombro. Era uma Perithemis lais macho, daí ser toda dourada. Ela olhou a libélula, olhou para o espelho e falou perguntando: Não lhe disse nego? I will survive! A Perithemis voou, saiu pela seteira e ganhou liberdade. Nuvens grossas de chumbo se formaram no céu e caiu uma enorme chuva que trouxe o cheiro de um chão há muito tempo não molhado. Não lavou-lhe a alma, mas lavou-lhe a calçada.

Lauro de Freitas, 04 de março de 2010.

Ruy Penalva
www.myspace.com/ruypenalvamusic

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