Quando Se Perde O Desejo
Quando se perde o desejo
Todas as tardes são calorentas.
Mormaço inoxidável,
Calor insuportável,
Céu sem pássaros,
Lago sem libélulas.
Quando se perde o desejo
Todos os sentidos são sem sentido
E a atenção hipocondríaca volta-se para o corpo.
Pesado corpo que se arrasta, mas não vê a alma,
Posto que a alma é o desejo e a velhice apenas peso no corpo.
Ó Pai, por que me abandonaste, desejo...
Por que fugiste e me deixaste a olhar este tedioso gramado de pragas?
A vigiar os defeitos do mundo,
Este tempo que não se define,
Este vento que não sopra,
Este nimbo que me estufa?
Aqui não cheguei para ser síndico do que não presta,
Do que me não satisfaz,
Completamente sem gás.
Não quero morrer a prestações abandonado pelo prazer,
Afugentado pelo sofrer,
Olhando no espelho sem me ver.
Devolve minha alegria e quem sabe um dia
Eu volto de novo a te crer!
Devolve minha esperança
E no passo da mesma dança
Devolve também meu prazer.
Ruy Penalva (LF, 14/10/2004)
sábado, 29 de maio de 2010
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