Eu Quero A Menina

Eu Quero A Menina (Ruy Penalva) Só não viu foi quem não quis O perdão tergiversar Quando aquele monstro feiticeiro Tomou conta do lugar Chegou, pediu, minto, exigiu A mais linda virgem pra levar A mais atraente A mais comovente A mais sempre a mais dentre as mais Pegou a menina Levou a menina Roubou a menina, sumiu Ninguém soube dela Ninguém mais revela Ninguém disse ao menos um piu! Já depois muito depois Bem no céu apareceu Um grande cometa Talvez um planeta Eu sei uma estrela nasceu Eu quero a menina Me tragam a menina Eu quero a menina porque No fim novela Só eu gosto dela Só eu vou poder desfazer Tamanho encanto Dum forte quebrando Que um dia pôs tudo a perder Um grande momento Meu contentamento De um dia casar com você

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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Dona Emília - Conto - Ruy Penalva

Dona Emília


Parte l - Convocação dispensável (leitura também) posto que jamais faltariam.
Chamem todos:
Chamem os irmãos Valtex, Valney e Valmick, a burralda, o cachorro vacionado, Bobó e o monstrinho que ruava, Elói zamino napurá.
Chamem Chico Naiana e a Ilustre Casa de Ramires, Verbiage e sua parolice, Tom, Bira Peixe, o Departamento de Investigação da Vida Alheia, Bell e quem mais puder chegar.
Chamem Filipeta e sua filha Belo, cujo siriáco tinha vitamina, conforme dizia a canção: É Belo, Belo, é chique, chique, o siriáco dessa menina, como é gostoso, tem vitamina... Chamem.
Chamem Alzenita, Causa nos Peitos, Edson banguelo, Pacatinho, Onze Anos, a cobra de barba e bigode, Biú Isabé, podem mandar chamar.
Chamem todos os punheteiros do Amparo, que afogavam o ganso no chão de barro, pra tirar sarro e poder se aliviar. É de cocó é de conveniência. Assim que é bom que não dá doença.
Chamem a prostituta Zoió, que aliviava os meninos, oh! Em múltiplos de dez, mó, por qualquer merréis, só. Era entrar pra gozar.
Chamem o velho Paulo e seu filho desmarcado, que tinha um cacete tão avantajado, que era difícil mulher pra testar.
Chamem Cabocla, Mucinha, Adriano, o doutor Pasta Pura, todos que queiram se aprochegar.
Chamem Paturi, Catita, Tatu, Guru-Guru, todos os bêbados e bichas que puderem e quiserem chegar.
Chamem o médico que atestou que o cabaço de Gladys foi quebrado numa queda, seu Barroso, dona Lia, venham todos, é folia, hoje eu lhes posso contar.
Chamem o goleiro Barbosa, anêmico de tanto bater punheta, pois cada bronha batida eram três gotas perdidas. Chamem-no.
Chamem o Papa-Figo, o Capelão alemão com sua Jeepa e os caminhões de bocetas que eram despejadas todos os dias no Rio das Tripas e apareciam boiadas e abocetadas, afogadas ao mar.
Chamem o Dr. Borô, que muita uretra com nitrato estenosou, e de Salvador, esse é outro sô! chamem de anjos o maior tirador, pois meu amor, hoje eu não vou abortar.
Chamem Jorge Gaiola, hermeneuticamente falando, que criava versos brechtianos, e emocionadamente recitando-os ia o Partidão enganar.
Chamem Paulo e sua namorada pingueluda, que não lhe mostrava a beiçuda, pra ele não se decepcionar.
Chamem o Pedrão, que nos bailes do Baiano, entrava nas pontas dos pés pisando, pra não se ferir nos cacos de cabaço, aqui e ali perambulando, verdadeiros perigos a se contornar.
Chamem Rato, Manolo, Dona Bárbara, seu criatório de pulgas, e aquela sopa rala, inodora, insossa, água pura, que não dava nem pra encarar.
Chamem Vadinha e seus corrimentos, Celso e os seus lamentos; se não vier, viu Vadinha! eu também vou espalhar.
Chamem a Detinha e seu marido Odilon, bexiguento, que quando dava a noite e calmava o vento, só queria no seu franzido fofar. Podem chamar.
Chamem a todos que não me esqueci, mas que por falta de espaço aqui, somente por isso aí, digo-lhes, resolvi, nesse momento, não chamar.

Parte II – Dona Emília – Para se ler

- São os comunistas Tézinho! São os comunistas! Estão no telhado. Vão invadir a casa, como faziam quando eram associados com Lampião. O monstro assobiador também taí.
- Calma, vó Emília. Calma!
- Chame Cibola Tézinho, chame Cibola.
- Vou chamar, vó. Vou chamar.
E Tézinho pegava um telefone mudo, sem ligação nenhuma à rede, daqueles imensos, preto, de baquelite, só visto hoje em réplicas ou casa de antiguidades.
- Alô Cebolinha! aqui é o Tel.
- Diga aí, Tézinho. Tudo bem?
- Não Cebola, nada bem. Os comunistas estão no telhado querendo invadir a casa e parece que hoje eles trouxeram o monstro assoviador. Vó Emília está assustada.
- Tudo fechado, Tézinho! Tudo fechado! Trancas nas portas. Liga o rádio alto para eles saberem que tem gente. Ligue para o delegado Pimenta e relate o fato.
- Que foi que Cibola disse, Tézinho?
- Tudo sob controle minha avó. Pediu para fechar tudo, apertar as trancas, ligar o rádio bem alto e chamar o delegado Pimenta.
- Eles são é covardes, Tézinho. Só aparecem de noite, quando não tem ninguém. No interior eles matavam e comiam as criancinhas e todo lugar que chegavam destruíam tudo. Unha e carne com Lampião.
- Delegado Pimenta?
- Quem fala?
- Sou o Tézinho, filho do Cebolinha, ele pediu que eu ligasse para o senhor para o senhor mandar prender os comunistas que estão aqui em cima do telhado.
- Esses comunistas não se emendam! Estou indo pra aí, Tézinho.
- Delegado, delegado, não desligue, ouça, ouça, traga também uma jaula para prender o monstro assoviador.
- Que tamanho que você calcula que esse monstro tem?
- Uns dois metros, delegado, e é peludo.
- Fique tranqüilo, Tézinho. Estarei chegando aí daqui a pouco.
- Tá vendo! Tézinho. Bastou Cibola tomar umas providências que eles já estão indo embora. Até o assobiador parou de assobiar. Eles sabem com quem estão lidando, Tézinho.
E vó Emília dormia, pegava no sono. Tézinho então guardava o aparelho em que falava consigo mesmo e ia dormir. Durante o dia, nem os comunistas nem o monstro assoviador apareciam. Eram covardes. Só a noite podia os trazer de volta. E essa rotina se repetia com freqüência, embora nem toda noite.
- Tá ouvindo, tá ouvindo, Tézinho?
- O quê, minha vó?
- Os comunistas de novo!
- Minha vó, hoje estou achando que são uns gatos no telhado.
- Comunista tem arte, Tézinho. Eles aparecem de gato, de rato, de tudo quanto é bicho. Ligue para Cibola.
- Tézinho, acho que eles hoje trouxeram a volante inteira. Vão invadir. Vão invadir. Ligue para Cibola.
E Tézinho corria pegar o telefone que deixava embrulhado no quarto e começava encenar todo ritual novamente.
- Cebolinha?
- Quem fala?
- É Tel, Cebola. É Tel.
- Tudo bem Tézinho?
- Não Cebolinha! Os comuniiistas novamente, e hoje eles trouxeram a volante inteira. Minha vó Emília está assustada.
- Ligue para o delegado Pimenta, Tézinho. Hoje a gente prende esse bando e enforca.
- Ok, Cebola, vou ligar.
- Delegado Pimenta?
- Que fala?
- É o Tézinho, filho do Cebolinha?
- Diga aí, Tézinho. Alguma anormalidade na área?
- Os comunistas, delegado. Os comunistas?
- De novo, Tézinho?
- De novo, delegado. Eles perseguem minha vó desde os tempos de Lampião.
- Aquele lá tá morto, Tézinho. Esses aí precisamos matar. Estou indo praí já.
- Combinado delegado. Vó Emília agradece.
- Que foi que o delegado disse, Tézinho?
- Que tá vindo pra cá, vó. Ele que ver se pega os comunistas hoje de surpresa e enforca tudo.
- Fecha as portas e as janelas, Tézinho. Liga o rádio.
- Exato, minha vó. E isso que eu já vou fazer.
De repente alguém bate à porta. Tézinho vai atender.
- Não abra, Tézinho. Não abra. São os comunistas! São os comunistas!
- Calma, vó! Calma! Pode ser o delegado Pimenta!
- Valtex, Valtex!
- Quem é?
- É o Bruno, Valtex.
- Que houve cara?
- A polícia, cara! A polícia prendeu um bocado de companheiros, fechou um bocado de aparelhos, está de campana na frente minha casa, eu preciso me esconder por uns quinze dias aqui com você.
E Valtex abriu a porta, deixou o Bruno entrar, sentaram no sofá e começaram a conversar baixinho. De repente chega vó Emília.
- Quem é esse, Tézinho?
- É o delegado Pimenta, minha vó. Veio passar quinze dias conosco para ver ser prende os comunistas que estão tentando invadir nossa casa.
- Cibola tá sabendo disso?
- Tá. Foi ele quem mandou, vó Emília.
- Muito prazer delegado! Agora posso dormir tranqüila! Que bom que é ter um genro como Cibola...




Lauro de Freitas, 22 de março de 2010.

Ruy Penalva
www.myspace.com/ruypenalvamusic

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