Brasilianas ( Ruy Penalva, São Paulo, 1977)
Que o tempo aqui não tá bom
é tudo que posso dizer,
mas que não falta a vontade
de um novo mundo nascer.
A terra é grande, dá pra todos,
no entanto é essa “insolução”,
“sai monarca e entra milico”
e é a mesma corrupção.
O povo trabalha, não governa,
chora a predação do país;
rouba-se: desde o reles funcionário,
ao embaixador em Paris.
Aliás, até nisso,
somos um país impar,
o acusador vai pra cadeia,
o acusado fica supimpa!
Casos como o de Aracelli
a todo o momento ocorrem aqui,
compra-se toda a polícia,
é um verdadeiro Haiti.
O pai de Claudia Lessin diz
conhecer os traficantes da nação,
o Ministro da Justiça cala a boca,
será que está na relação?
Isto me fez recordar
Geisel e a sua embaixada,
que na Bolívia estiveram
para mais uma marmelada.
Ao Geisel foi apresentado
o Ministro da Marinha
do pobre país Bolívia
que tinha frota e mar não tinha.
Mas foi-lhe de pronto explicado
que no Brasil das injustiças
tínhamos um boneco fantasiado
de Ministro da Justiça!
E toda a visita transcorreu
da maneira mais engraçada,
o Presidente Geisel falava,
o Prefeito Banzer dava risada,
e nesse orgasmo coletivo
a Bolívia o gás entregava.
Fleury torturador assassino
já devia estar na prisão,
mas dizem que se for preso
delata muito “grandão”.
O coronel Erasmo Dias,
com apoio da contravenção,
vai para Câmara Federal
defender a moral da nação!
Maluf e Chagas se reuniram
e a vergonha nacional tremeu,
foi uma reunião tranqüila,
pois nem a polícia apareceu.
Grupo Lume, Grupo Atalla,
UEB e Lutfalla,
tudo com dinheiro do trabalhador,
o PIS PASEP financia
esse festival de horror.
A riqueza do país está nas mãos
de quem nunca viu a labuta,
a maioria vive mal, 30 milhões
sobremorrem na miséria absoluta.
Armaram uma ARENA falsa
pra dar apoio a esta lama,
convocaram corruptos e fascistas,
estava feita a nossa cama.
Em nome do lucro e da ordem
o americano tudo financiou,
treinaram torturadores
e nas nossas costas o pau cantou.
No Panamá ensinaram
nosso militar repetir:
“O inimigo é o comunismo
a quem devemos destruir.”
E de tanto repetirem a mesma coisa
esqueceram que a corrupção
destrói as estruturas
e enfraquece a nação.
Sai e entram Ministros
sempre com o mesmo jargão:
“Nossa meta prioritária
é combater a inflação.”
Zé Povinho é quem se lasca
e o culpado é o mamão.
Diz-se que o causador da inflação
é o trabalhador e o seu salário,
e que o pobre Salário Mínimo
tem efeito inflacionário!
Se bem que este problema
é controverso de Norte a Sul,
a inflação já foi de demanda,
foi de custos, foi do chuchu.
Já foi também importada,
causada pelo petróleo,
que apesar de andar congelado
ainda continua a queimar óleo.
Agora é problema político,
quase sem solução,
e os juros são conseqüência
não causa da inflação.
E a correção monetária
é o mal menor do país,
pois ela só atualiza
o pobre dinheiro infeliz.
E não falam do crédito gracioso,
que nada melhorou a produção,
tudo é jogado no open
onde cresce nem furação.
Pra eleger Figueiredo,
Geisel não consultou a nação,
que agüentou firme e forte
o ranço do alemão.
Dividiram as capitanias
do Oiapoque ao Chui,
com os Portela comandando
O Bordel do Piauí.
E Minas Gerais, que comandou a besteira,
teve como castigo
o Francelino Pereira,
um safado pela cara,
um aproveitador de carreira.
E São Vicente então,
o estado mais importante,
ganhou de governador
um famoso meliante,
ladrão sindicalizado,
safado pelo rompante.
E o povo desta terra,
de sabedoria singular,
disse: “Espere novembro,
que a gente vai acertar”,
e a porrada foi tão grande,
que fez o sistema abalar.
Vinte é menos que quinze,
tudo isso ocorre aqui,
desde que inventaram a lógica
do matemático Golbery,
o satânico Doutor Gô
da Dow Chemical e do Jarí.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
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